Guantánamo: Uma grande mentira

Publicado em: 11/01/2012

“O fato dos americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar. A base de Guantánamo. A base da baía de Guantánamo”.

Esses versos foram cantados por Caetano Veloso. Hoje (11) completa dez anos que chegaram à base na Baía de Guantánamo, os primeiros prisioneiros. Eram vinte, algemados e vestidos com macacão laranja, além de usarem capuz. Em seus ombros, pesava a acusação de suspeita de envolvimento na onda de terrorismo nos Estados Unidos da América. A base na ilha de Cuba foi alugada pelo exército dos EUA desde 1903 e reativada em 2002 sob a égide do combate ao terror.

Na campanha eleitoral que o elegeu em 2008, o atual presidente estadunidense Barack Obama garantiu fechar a base. Às vésperas do 10º aniversário da Base – e das eleições presidenciais – ele repete a mesma ladainha: "O compromisso do presidente de fechar a prisão da Baía de Guantánamo é tão firme hoje como foi durante a campanha". Palavras do porta-voz da Casa Branca Jay Carney. Obama não discursou sobre a primeira década da Base, mas vale lembrar que ao assumir, ele deu o prazo de um ano para o fechamento de Guantánamo.

A pressão política do Congresso fez com que Direitos Humanos continuassem a ser violados e dificilmente terão um basta em ano de eleições presidenciais. Pela cartilha dos defensores de Guantánamo, os autores intelectuais dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 estariam entre os 171 detentos que permanecem na base, aguardando julgamento em tribunais militares, mesmo que sejam civis.

Para Rob Freer da Anistia Internacional, a base não passa de um grande erro. "Guantánamo se converteu no símbolo de 10 anos de falhas sistemáticas por parte dos Estados Unidos no respeito aos direitos humanos em sua resposta aos ataques de 11 de setembro", afirmou.

Terror com terror se paga?  – Guantánamo é uma base repleta de prisioneiros destituídos de direitos e é um dos maiores símbolos da "guerra contra o terrorismo": EUA X Al-Qaeda. Em 2011, nove anos e alguns bilhões de dólares depois, o mentor do ataque, Osama Bin Laden foi finalmente morto, ou assim os EUA querem fazer crer. Mesmo assim, a ilustre promessa de Obama não passou de campanha eleitoral e os edifícios construídos em maio de 2002 ainda estão de pé. Dos 779 homens que amargaram o terror das celas de Guantánamo, restam 171 homens sem muitos direitos. Ou sem direito algum.

Nessa última década, apenas seis dos detidos foram declarados culpados pelos tribunais militares, segundo o Pentágono. Sete outros devem ir a julgamento pelos próximos meses. Inclusive o que confessou ser o verdadeiro mentor dos ataques de 11 de setembro. 90 dos prisioneiros foram absolvidos de todas as acusações, mas agora não têm para onde ir e Obama não consegue encontrar países para enviá-los. Nem mesmo sua terra natal os aceita de volta.

A Anistia Internacional deve “comemorar” os dez anos da base com um relatório denominado "Guantánamo, uma década de danos aos direitos humanos". A certa altura, o texto versa sobre “a incapacidade do governo dos Estados Unidos para fechar as instalações de detenção na Baía de Guantánamo deixa um legado tóxico para os direitos humanos. (…) As raízes do problema jazem mais atrás, na histórica dificuldade que os Estados Unidos têm de aplicar a si mesmos os padrões internacionais de direitos humanos que normalmente dizem esperar dos outros".

10 anos depois, pode-se dizer que a base é uma ilha de prisioneiros, cercada por um mar de mentiras, como muitas que os EUA vêm divulgando pelo mundo para manter sua hegemonia.

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