A Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Imperatriz no Maranhão divulgou na noite desta segunda (09) o relatório sobre a suposta morte de uma criança indígena da etnia Awá-Gwajá, que teria sido queimada viva, por madeireiros no município maranhense de Arame. De acordo com o relatório, a história seria “boato infundado, uma mentira”, grafado em caixa alta.
A nota de esclarecimento da Fundação ainda qualifica o fato como “ação dos aproveitadores inescrupulosos que se apressaram em tentar legitimar a mentira” e lamenta que “a sociedade brasileira tenha sido ludibriada de maneira tão vil”.
Os técnicos da Funai fizeram uma visita de campo de três dias e conversaram com um líder indígena que mantém algum contato com os Awá-Gwajá, que costumam viver isolados. As declarações de Clóvis Tenetehara, índio guajajara bastaram para a conclusão de que não existe crime, corpo carbonizado nem registros fotográficos ou em vídeo do fato, portanto seria boato.
Primeiras informações – Estranhamente, as primeiras notícias davam conta de que foi encontrado o corpo carbonizado de uma criança em meados de outubro do ano passado num acampamento abandonado pelos Awá, a cerca de 20 quilômetros da aldeia Patizal do povo Guajajara e a Funai foi informada do episódio em novembro, mas na época não partiu para nenhuma investigação do caso.
O próprio Clovis Tenetehara, que costumava ver os Awá-Guajá durante caçadas na mata relatou que deixou de encontrá-los e teria localizado um acampamento abandonado, com sinais de incêndio e os restos mortais de uma criança. Nesse período, madeireiros estavam no local.
Os Guajajara já haviam informado que, nos últimos anos a ação de madeireiros na região causava a migração dos Awá do centro do território indígena para as periferias e que a floresta tem sido devastada pela retirada da madeira, o que representa risco à subsistência do grupo, que é essencialmente coletor.
Denúncia? – A Delegacia de Defesa Institucional (Delinst), setor da Polícia Federal (PF) responsável pela investigação de crimes contra populações indígenas, informou não ter recebido denúncia, mas em nota divulgada na sexta (06), a Funai informou que havia denunciado a caso à PF desde novembro, solicitando investigação.
O delegado Rodrigo Correa, responsável pela Delinst no Maranhão explicou que uma investigação formal pode ser iniciada mesmo sem uma denúncia, mas para isso, é preciso que se levante algum indício concreto, como o depoimento de alguém que possa ter visto os restos mortais citados nas denúncias.
Redes sociais – Quando o caso se tornou público em reportagem do jornal maranhense Vias de Fato, a Funai confirmou, em nota, ter recebido uma denúncia anônima sobre o fato ainda em novembro. A entidade enviou equipe ao local para levantar informações, mas só o fez a partir da repercussão do caso nas redes sociais.
Ontem (09) o relatório da Funai causou indignação nas redes sociais, entre pessoas que se interessam pela causa indígena e vêm acompanhando o caso. A opinião mais recorrente no microblog Twitter era de que o relatório era estranho e trazia uma linguagem tosca. O fato é que o relatório não esclarece se Clóvis Tenetehara realmente fez as denúncias no início de novembro e se a comissão chegou a visitar o local do acampamento onde estaria o grupo Awá-Gwajá, onde o corpo teria sido encontrado.
Madeireiros – Uma “coincidência” é que durante a visita, a comissão da Funai flagrou um caminhão de madeireiros dentro da área Araribóia, dirigido por um indígena já reincidente na retirada ilegal de madeira. Ele relatou aos técnicos que a madeira a ser retirada “teria como destino as serrarias do senhor Miguel e do senhor Paulo no município de Grajaú-MA”. O que os responsáveis da Funai fizeram? Registraram o flagrante no relatório: “Foi avisado ao motorista do caminhão sobre a ilegalidade das suas ações e as consequências, caso continue cometendo os mesmos ilícitos em terra indígena.”
Clique aqui para baixar o texto do relatório da Funai.
A foto que ilustra a matéria tem sido divulgada como sendo da criança Awá queimada viva.