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Dezembro triste

Publicado em: 05/12/2011

Escrito por Mariana Vieira no Campus Online – O último final de semana foi daqueles. Não porque houve festas, churrascos, burburinho. Houve, sim, gente jovem reunida, na capela sete do Campo da Boa Esperança. Uma de nós não vai mais para as aulas. Não vai terminar esse semestre, ou qualquer outro. Laís Pimenta, 21 anos, aluna do quinto semestre de publicidade da faculdade de comunicação da Universidade de Brasília não está mais entre nós.

Eu conheci a Laís na quarta série do ensino fundamental, lá no ano 2000. Estudávamos em uma escola preparatória para o colégio militar ( o pai dela era militar, mas ela se esforçou para entrar na escola, como qualquer um de nós, “civis”) e o clima era de competição acirrada, mesmo entre crianças de dez anos de idade.  Eu era novata, e Laís fez uma coisa que poucos naquele lugar fizeram por mim; ela sorriu.

E quem conheceu o sorriso tão fácil, tão aberto da menina que, anos depois, eu reencontraria na faculdade, sabe que não é pouca coisa. Mesmo que tenhamos nos distanciado por circunstâncias da vida, ela nunca parou de sorrir para mim, nos corredores, nas festas onde nos esbarrávamos, por aí. E hoje, nesse contexto estranhíssimo, no qual conhecidos de uma vida inteira viram a cara e fingem não te conhecer, onde existe apatia e também uma espécie de preconceito e ódios cegos pelos outros, sorrir fez tanta diferença. Seu sorriso, Laís, fez tanta diferença para tanta gente que você nem imagina, bonita.

Laís estava numa festa, e voltando para casa às quatro horas da manhã, teve um problema no carro, quando estava na altura da ponte de Bragueto. Parou, mas não pararam. Um segundo carro atingiu o dela, e tão rápido quanto se pode pensar, ela se foi. Aos vinte e um, mesma idade que eu, que tantos colegas. Em um carro, de madrugada, na ponte. Poderia ser qualquer um de nós, todos nós.

Quando uma estrela se apaga prematuramente, o brilho de todas as outras fica comprometido. Porque, jovens que somos, esquecemos da nossa condição maior, da nossa mortalidade. Quando o curso de uma vida é interrompido tão abruptamente, somos obrigados a reconsiderar nossas ações diárias. Nossas mesquinharias, nosso egoísmo, nossa falta de bom-senso de sair, beber, dirigir. Nossa impotência diante da morte, nosso desespero jovem de tentar tudo viver de uma vez e aos montes.

O outro motorista está bem. Aliás, vive bem, tem família influente, tia política, nem sequer passou a noite na prisão, nem sequer fez teste de bafômetro. Talvez, nem sequer tenha se dado conta da dimensão do acontecido. De nossa parte, colegas, amigos, familiares, esperamos e lutaremos por justiça, por julgamento certo, por punição. Ainda que saibamos que é pouco, que não trará aquele sorriso de volta, que não iluminará nosso caminho para fora desse pesar.

Laís se mudaria para o Rio de Janeiro em breve, seu pai havia sido transferido. Ela só visitou a cidade maravilhosa uma vez, este ano. Acho que quero guardar essa imagem: Laís sorrindo no rio, na praia. Laís quase uma carioca, entoando sambas e funks, requebrando, princesinha. Laís foi para o Rio sorrir eternamente para o Cristo Redentor.

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