A Câmara Legislativa do Distrito Federal foi, nesta quarta-feira (8), o palco principal de mais uma das disputas entre a esquerda e a direita no país. Numa cena inusitada, senadores de partidos de oposição vieram à Casa para pedir o impeachment do governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz e fortalecer a combalida oposição parlamentar, composta por apenas três deputados. Eles vieram dispostos ao confronto e usaram toda a artilharia possível contra o governador Agnelo Queiroz.
O grupo veio apresentar quatro pedidos de impeachment do atual governador – de um total de cinco protocolados hoje. Os pedidos foram feitos pelo Democratas (DEM); pelo PSDB; pelo presidente regional do DEM, Alberto Fraga; pelo presidente em exercício do PSDB no Distrito Federal, Raimundo Ribeiro; e pelo advogado Rogério Dias Pereira.
Estiveram presentes os senadores do partido Democratas Agripino Maia, Demóstenes Torres e os deputados federais Onyx Lorenzoni e Ronaldo Caiado, também do DEM; o senador do PSDB Álvaro Dias e os presidentes regionais Alberto Fraga e Raimundo Ribeiro. Eles foram ciceroneados pelos deputados distritais Raad Massouh (DEM), Celina Leão e Liliane Roriz, ambas do PSD.
O presidente Alberto Fraga explicou que, além das denúncias apresentadas na imprensa, a peça traz também uma cronologia dos indícios de crimes supostamente cometidos e onde o atual governador do Distrito Federal é descrito como um político ocupado em aparelhar a máquina do Estado.
“Os grupos que o acompanham desde quando era ministro e diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – e que agora são acusados de práticas criminosas em notícias veiculadas por todo país – fazem parte desse governo. O governador acusa seus opositores, mas quem usa o cargo para proteger seus comparsas e beneficiar seus parceiros é o próprio Agnelo Queiroz. É o governador que entende de organização criminosa”, reagiu.
Alberto Fraga reagiu também à mudança da cúpula da Polícia Civil – depois da substituição do comando da corporação, 67 delegados foram exonerados. “É um ato insano substituir tantos delegados, paralisar investigações. É uma ameaça institucional, um perigo que evidentemente beneficia o grupo do governador”, acusou. Ele também acusou Agnelo Queiroz de sonegação e questionou a ausência de sua declaração de renda.
O presidente Raimundo Ribeiro ressaltou que a iniciativa do grupo não pode ser entendida como um ato político partidário, mas como o exercício da plena cidadania e de defesa da legalidade. “O governador não tem a menor condição de continuar no cargo. Aparelhou a polícia e mente descaradamente. Disse que não conhecia seu acusador e depois admite que ele é um amigo de longa data”, criticou.
Já os senadores Agripino Maia e Álvaro Dias acusaram o Partido dos Trabalhadores – principal base dos governos federal e distrital – de banalizar e naturalizar a corrupção no Brasil e convocaram os partidos à reagir, estimulando a população a superar a apatia.
“Está na hora de acabar com essa fábrica de escândalos que se tornou o país. Temos que restaurar a capacidade de indignação da população, protestar. Tenho certeza que a Câmara Legislativa irá repercutir a indignação popular, já evidente nas marchas contra a corrupção que ocuparam a cidade meses atrás”, conclamou o senador Álvaro Dias.
A deputada Liliane Roriz alertou sobre uma “blindagem” a Agnelo. “Hoje tentei aprovar um requerimento para ouvir os secretários Paulo Tadeu, Rafael Barbosa e o denunciante de irregularidades na ONG Segundo Tempo, João Dias. Porém meus colegas da base do governo votaram contra”, lamentou Liliane.
Deputada perplexa com mudança de depoimento
Depois de agradecer a presença dos colegas, a deputada distrital Celina Leão se disse perplexa com a mudança no teor dos depoimentos de Daniel Tavares, testemunha que acusou o governador Agnelo de receber propina quando foi diretor da Anvisa. Ontem, em vídeo exibido por uma rede de TV, o ex-funcionário da União Química afirmou que sua versão havia sido comprada pela oposição. “Como alguém pode mudar de opinião em 24h? Eu suspeito de compra de testemunha”, disse Celina.
Celina Leão ressaltou que as acusações não se restringem ao Distrito Federal. Envolvem problemas no Programa Segundo Tempo, no XV Pan- Americano, Rio 2007 – quando Agnelo Queiroz era ministro dos Esportes – e na sua gestão na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ao final, Alberto Fraga disse que o que o país vive é uma ameaça totalitária. “Governo sem oposição, como temos hoje, também é uma forma de ditadura, uma expressão totalitária”, concluiu.
Foto: Fabio Rivas/CLDF