A mídia tradicional não dá trégua aos governos de esquerda deste país. Depois de passar sete anos tentando desconstruir o presidente Lula (o primeiro ano, claro, foi uma lua de mel) agora, em apenas 11 meses, derrubou cinco ministros de Estado com denúncias de corrupção. As acusações, em sua maioria, foram esquecidas tão logo o atacado saiu de cena. E as investigações pouco ou nada mostraram.
Nas últimas semanas, no entanto, abriu-se uma janela de oportunidade para a imprensa comercial partidária e de oposição. Com as suspeitas recaindo sobre o Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, e a demissão do titular da pasta, Orlando Silva, surgiu a possibilidade de derrubar não só um ministro, mas também o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Do Partido dos Trabalhadores, obviamente.
Tudo baseado nas denúncias de um policial investigado pela Polícia Federal, pelo desvio de R$ 3 milhões. Numa investigação aberta a partir de um pedido do ex-ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, sobre quem recai toda a atenção da imprensa.
Últimos ataques
Agora a revista Época denuncia que o patrimônio do petista aumentou 413%, entre 2006 e 2010. Os dados foram extraídos de suas declarações de imposto de renda e fazem parte de um processo que corre na Justiça Federal, no Rio de Janeiro.
A IstoÉ traz o testemunho da médica Jussara Oliveira Santa Cruz de Almeida. Dirigente da Associação dos Voluntários, Pesquisadores e Portadores de Coagulopatias (Ajude-C), ela teve suas contas reprovadas e foi condenada a devolver à União mais de R$ 300 mil. Em entrevista à revista, disse que foi usada pelo suposto esquema de Agnelo Queiroz para desviar recursos do Ministério do Esporte, por meio de ONGs. Acabou virando sua cúmplice.
Outro alvo das notícias atuais é o ministro do Trabalho Carlos Lupi, cuja artilharia pesada foi reforçada neste final de semana por duas revistas – Veja e IstoÉ.
A primeira revela que Lupi voou num jato particular alugado por um empresário beneficiado por convênios com o Ministério do Trabalho. A viagem teria ocorrido em dezembro de 2009, em companhia do governador do Maranhão, Jacson Lago (PDT), do secretário de Políticas Públicas de Emprego, Ezequiel Souza e do empresário gaúcho Adair Meira, que, de acordo com Veja “comanda uma rede de ONGs que têm contratos milionários com o Ministério do Trabalho”.
A matéria conclui, então, que o caso confirma a existência “daquelas clássicas confraternizações entre interesses públicos e privados, cuja despesa acaba sempre pendurada na conta do contribuinte”.
Já a última edição da revista IstoÉ trouxe uma longa reportagem sobre os convênios do ministério com a Força Sindical. A publicação acusa o gabinete do ministro do Trabalho de extorquir sindicatos para desviar recursos do imposto sindical à central controlada pelo PDT e por assessores de Lupi.
A reportagem se baseia em denúncias do presidente do Sindicato de Trabalhadores em Bares e Restaurantes da Baixada Santista, Litoral Sul e Vale do Ribeira, João Carlos Cortez que, sem apresentar provas, garante que existe um esquema de venda de cartas sindicais montado no Ministério do Trabalho, que é “operado por pessoas ligadas diretamente ao ministro”.
A mídia hegemônica nunca tolerou duas iniciativas do presidente Lula favoráveis ao sindicalismo: a legalização das centrais sindicais e o custeio destas entidades através dos recursos da contribuição sindical. Além de alvejar o ministro Carlos Lupi, a matéria visa criminalizar o sindicalismo, asfixiando-o financeiramente.
Não há problema em jornais, revistas e redes de TV darem publicidade às denúncias contra agentes públicos. Pelo contrário, faz parte da função social e da missão desses órgãos. O problema é que parte relevante da imprensa abandonou a investigação e o respeito aos mínimos padrões éticos e se limita a um jornalismo declaratório superficial e perigoso.
As reportagens não trazem provas e, em sua grande maioria, estão baseadas no depoimento de pessoas acusadas ou investigadas – algumas que até mesmo foram presas. Pessoas que têm interesse em prejudicar os agentes públicos agora acusados. E cujos depoimentos podem ser postos em suspeição.
Outro problema é a publicação das declarações de imposto de renda de Agnelo Queiroz, numa revista de circulação nacional, como prova de enriquecimento ilícito. Ou o uso de informações semelhantes contra Antônio Palocci, que provocaram sua demissão da Casa Civil. Contra os petistas, pode. Mas o vazamento de informações de Verônica Serra, filha de José Serra (PSDB), foi considerado criminoso pela imprensa e produziu demissões na Secretaria da Receita Federal.
E a pergunta que fica é: Porque é crime para uns e não para outros? Pode, ou não pode, divulgar esse tipo de informação?
Além disso, a imprensa atropela todas as etapas institucionais. Investiga, acusa, julga e pune, sem dar chance de defesa para os acusados. Não admite a presunção de inocência para seus adversários e transforma opiniões em fatos e provas. Pratica a intimidação, a calúnia e a difamação.
Portanto, faz guerra política e não jornalismo. Ameaça a liberdade de expressão, partidariza notícias, omite fatos e cerceia opiniões. Em outras palavras, exerce mal sua função, abusa de seu poder e põe em perigo a democracia.