Artigo de Simone Lima – Estive na quarta feira na área de conflito do Noroeste e estou acompanhando, perplexa, a situação que está transcorrendo por lá.
E o que ocorre é a mais absoluta inversão de valores e do estado de direito.
Compreendo que existe polêmica no tocante à área ser de fato indígena ou não ( e nem vou discutir isso), mas o fato é que exatamente por haver a polêmica, exatamente pelo fato de o conflito estar tramitando na justiça, é que a EMPLAVI, Brasal e comparsas não poderiam estar já desmatando a área, cavando imensos buracos, cercando as áreas que escolhem , soterrando outras áreas de cerrado com terra tirada dos buracos-que-virarão-garagens e intimidando e agredindo que os questiona.
Foi o que eu vi, assim como vi um caminho que leva até a área, a partir do estacionamento do Leonardo, completamente tomado por entulhos de outras obras. Já que na área vale tudo, lá também pode ser lixão, né?
Se o IBRAM não vê um lixão-em-formação bem no Plano Piloto, estamos perdidos.
Mas o que mais me chocou é que vi que em plena capital, as empresas construtoras do Noroeste contratam seguranças armados qu, em plena luz do dia, diante de câmeras e testemunhas, ameaçam, intimidam e batem nos jovens manifestantes e nos indígenas que lá estão. Há vários dias meus filhos, alunos, sobrinhas e amigos estão lá me mandando notícias: fulana levou uma chave de braço de um segurança e ficou sem ar; fulano foi agredido até ficar desacordado, fulana foi empurrada ao chão e levou chutes do segurança de coturno.
Hoje de manhã vimos imagens na Record — um dos raros meios de comunicação que pelo jeito não ganha muito dinheiro com anúncios das construtoras — de um segurança dando cacetadas na cabeça de uma jovem. A polícia, ao invés de prender o agressor, o protege dos outros manifestantes e imobiliza a menina. O segurança ainda fica cantando de machão, golpeando o ar com o cacetete, com a coragem dos covardes.
A última vez que chequei nossas leis, era necessário autorização para construir um prédio. A última vez que conferi nosso código penal, ameaça, agressão e manutenção de milícias privadas eram crimes. E crimes na frente da polícia deveriam levar a prisão em flagrante. Mas hoje, quem saiu de camburão foi a agredida.
Construções sem licença, transformação de áreas do Cerrado em lixão, agressão física, intimidação.
É o que estão fazendo, em plena luz do dia, à vista da polícia, na capital do país, como se fôssemos área de conflito de terra no interiorzão, em nosso passado sombrio de ditadura militar, quando o Estado de direito tinha tirado férias e viajado pro exterior.
Noroeste previsto no PDOT aprovado à base de propina. Noroeste é faroeste.
Agnelo, eu que te conheço desde que você chegou em Brasília, eu que estive do seu lado em manifestações contra a truculência da polícia no regime militar, eu que disse a tantas pessoas durante a campanha, o cara é gente boa, vote nele, quero te lembrar: não votei nem em Roriz nem em Arruda.
E quero muito ver a diferença, mas anda difícil.
Você pode ter recebido dinheiro pra sua campanha da EMPLAVI, mas os votos recebeu foi de pessoas como eu.
Ou bem você faz algo rapidinho para restaurar o estado de direito em nossa cidade, ou a gente vai trabalhar para que ninguem se esqueça dessas cenas vergonhosas.
A escolha é sua. E eu quero crer que você ainda tenha escolha.
Simone Lima é Fundadora e Diretora Geral da Organização não governamental ProAnima