Ecologia de mentira: firmas do DF causam dano ambiental ao Parque Olhos d’Água

Publicado em: 18/09/2011

De João Arnolfo – A profusão de faixas já deixava no ar a suspeita de dinheiro rolando por trás do evento convocado para “conhecer e limpar as nascentes” do Parque Olhos d’Água, na Asa Norte de Brasilia, na manhã deste sábado seco.

Do lado de fora, dezenas de veículos estacionados irregularmente, sob olhos complacentes de uma viatura do Detran, reforçavam a má impressão – coisa boa, de moradores e voluntários de verdade, não poderia ser. Muito menos de ambientalistas.

Livretos mal-feitos sobre a tal ‘’sustentabilidade” e ”cidadania”, sem responsável técnico,  distribuidos a rodo junto com gratuitas garrafinhas para água, feitas de plástico de má qualidade, somavam-se a um enorme contingente  de funcionários com cara de gente paga com dinheiro público. Ou com o lucro com a coisa pública.

Coisa boa não sairia de uma entidade capitalista com o nome de Sindicato das Empresas de Asseio, Conservação, Trabalho Temporário e Serviços Terceirizáveis (SEAC) do Distrito Federal – pelo menos nos passados governos de Joaquim Roriz e sua turma, eram sempre suspeitas de tramoias, canos nos terceirizados, exploração de trabalho alheio e superfaturamentos em geral.

Mas quem sabe mudaram, agora estão do lado do bem, protegendo o meio ambiente, no governo do PT que todos ajudamos a eleger para limpar a corrupção no DF?

Que nada. Estavam no parque promovendo um show em área de alta visibilidade, fingindo que iriam limpar nascentes ameaçadas por entulhos, lixo e ganância das empresas imobiliárias da capital – e fazendo exatamente o mal feito, como diria a comandante Dilma Rousseff.

Passavam o ancinho e a vassoura onde não deveria, ”limpando” a cobertura de folhas secas que protegem o solo do parque, tomado da especualção imobiliária no início da década de 1990. Varriam tudo e colocavam em antiecológicos sacos de plástico, aos montes, levando embora exatamente a matéria orgânica que impede o solo de se esturricar ainda mais com o desequilibrio climático.

Com barulhentos carrinhos altamente poluidores com motores de dois tempos, que emitem grande quantidade de dióxido de carbono na atmosfera e pioram o aquecimento global, levavam embora as folhas secas que deveriam ficar onde estavam, para apodrecerem quando chegar a chuva atrasada e assim formar matéria orgânica para recuperar a terra em petição de miséria.

Armados de câmera na mão caçamos os (ir)responsáveis. Apareceu  o presidente do SEAC-DF, Luiz Freitas, que acabava de levar outra bronca de um agrônomo PhD, professor da Engenharia Florestal da UnB, de quem ouviu que as folhas deviam ser deixadas ali mesmo, não eram lixo a ser varrido…

Só pode ser má fé, não precisa ser ecologista para saber que está errado ”varrer” um parque ecológico, que nunca tem lixo de verdade, por ser bem cuidado pela esclarecida classe média local.

Mas gente como a proprietária de uma das empresas que exploram o “asseio” na capital federal, dona Maria Donas, tinha certeza de que estava fazendo certo… Informou que estava levando as centenas de sacos cheios de folhas exatamente para a empresa dela, onde seria feita a compostagem – “por que aqui na natureza é mais devagar, não fica bem feito” – e depois o adubo seria devolvido ao Parque Olhos d’Água.

Verdade, dona?

Isso é que é governo distrital ambientalmente correto – suas concessionárias de limpeza e exploração de mão-de-obra fazem trabalho melhor do que a natureza. Deve ser por causa da orientação da Secretaria de Meio Ambiente do GDF, entregue por engano a um daqueles eternos donos do Partido Verde que nunca foram ambientalistas.

Ou será por que o governador Agnelo Queiroz foi para o PT mas não conseguiu se livrar da linha de pensamento do seu antigo PCdoB, que fez aliança com os ruralistas no Congresso para detonar com o Código Florestal?

Toda a pirotecnia do tal sindicato de empresas deve ser para ganhar futuros contratos, quando o governo resolver cumprir a Lei de Resíduos Sólidos, implantar direito a coleta seletiva e acabar com o vergonhoso lixão ao lado do Parque Nacional de Brasilia.

Quem sabe eles não possam ganhar dinheiro também do Ibama para ”varrer” o parque nacional, tirar milhões de sacos de folha seca, levar para os lotes que devem ter ganho dos Roriz antigamente –  e lá processarem tudo para fazer um trabalho que a natureza não dá conta mesmo?

 

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