Observatório da Imprensa – O senador José Sarney anuncia, na Folha de S. Paulo, que vai abandonar a política em 2014, assim que terminar seu mandato atual. Aos 81 anos, ele pretende se dedicar mais à literatura, atividade que deixou em segundo plano na última década. A declaração foi feita em São Luís, nesta segunda-feira, dia 18/7, durante o lançamento de sua biografia, escrita pela jornalista Regina Echeverria.
Para os familiares do senador, como sua filha Roseana, governadora do Maranhão, o anúncio representa o cumprimento de uma promessa feita há alguns anos.
Roseana confessou à Folha que considera a sombra do pai um empecilho ao reconhecimento de seus méritos como personagem da política, mas afirma que este também será seu último mandato.
A governadora do Maranhão, que já ensaiou uma candidatura a presidente da República em 2002 e foi derrubada por uma mala de dinheiro encontrada em uma empresa da qual era sócia, ainda se ressente do que considera pouco reconhecimento público à sua carreira.
Segundo o jornal paulista, ela se queixa de ser vista apenas como filha de “alguém” e integrante da “tal oligarquia”.
O conjunto de declarações, somado ao cenário principal em que se desenrola a atividade política da família Sarney, dá um retrato bastante esclarecedor de alguns dos velhos vícios da República e que, de certa forma, respingam na imprensa.
Clã
Além de se perpetuar na política maranhense desde a década de 1960, a oligarquia – qualificação que Roseana rejeita – expandiu, nesse período, seu controle sobre os principais meios de comunicação da região.
Associada à rede Globo, a emissora de televisão da família sempre foi, em termos práticos, uma extensão do palanque político.
As carreiras políticas de José Sarney e dois de seus filhos– Roseana e o deputado federal Zequinha Sarney, líder do Partido Verde – não podem ser desvinculadas de seu controle sobre jornais, emissoras de rádio e televisão.
A anunciada retirada do velho cacique poderia inspirar um trabalho jornalístico sobre as oligarquias que ainda imperam na política regional e de certa maneira definem o perfil do Congresso Nacional.
Quem sabe também se lance alguma luz sobre a resistência de Brasília a levar adiante um projeto consistente de reforma política e um debate sério sobre a propriedade dos meios de comunicação.