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Intrigas, diz Doyle, o tiraram do GDF

Publicado em: 16/06/2015

 Como é passar cinco meses sendo considerado tão ou mais poderoso que o governador e ter que abandonar o projeto ainda no início?

Essa é uma imagem criada. Ninguém é mais forte que o governador. Isso é uma bobagem. Ele foi eleito, tem o poder da caneta. Eu apenas tinha uma posição de destaque, por conta do cargo que exercia. O que havia eram intrigas de pessoas que queriam me desgastar.

Quem fazia intrigas?

Vinha de todos os lados. Pessoas com projetos políticos diferentes, com interesses contrariados, com ciúmes, partidos descontentes, muito fogo amigo. Isso em governo acontece. Existe certa normalidade, mas tem limite. Nesse caso, acho que passou.

Isso abalou a sua relação com o governador?

Nunca senti nenhum abalo. A gente até conversava sobre isso e ele me dizia que isso não o atingia. Ele sabe que o governador é ele.

Com o Cristovam Buarque, o senhor passou por um episódio parecido. Era um secretário forte e saiu prematuramente. Que semelhanças observa nesses casos?

Nos dois casos, houve intrigas internas e na política. Mas o Rodrigo é muito mais seguro, muito mais firme e muito menos influenciável do que é o Cristovam.

Em que pontos errou?

Errei ao me intimidar. Parei de aparecer e deixei de ser tão porta-voz. Isso acabou prejudicando o governo. Poucas pessoas se dispõem a defender o governo. Outra coisa que não foi um erro, mas não teria feito de novo, foi a entrevista que dei sobre os efeitos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Falei com transparência o que prevê a lei. Por interesses, essa declaração foi deturpada e passou-se a dizer que eu defendia a demissão de servidores públicos. Não é verdade.

Por que acha que a deputada Celina Leão praticamente pediu a sua cabeça?

Ela teve interesses contrariados no governo. Mas não fui eu que contrariei esses interesses. É fácil culpar o secretário. Não saiu a nomeação? A culpa é do Hélio Doyle. Vetaram fulano de tal? A culpa é do Hélio Doyle. Passei a ser o culpado de tudo. É mais fácil atacar o supersecretário. Quando ela começou a pressionar o governo, a partir da divulgação de notícias de ligações dela com o Luiz Estevão e do nepotismo do funcionário dela, o governador disse que a relação estava complicada. Ela pediu a cabeça do controlador-geral. Seria o fim da picada o governador demitir o controlador-geral por estar fazendo bem o seu trabalho.

Quais interesses foram contrariados?

Ela queria dominar determinar áreas do governo, como o Detran. Nunca tive uma única discussão com a Celina, nunca a impedi de fazer nada. Não deixou de dominar o Detran por culpa minha.

Há falhas na articulação política?

A articulação política e a relação com a sociedade são os pontos fracos desse governo. A articulação política partiu de uma premissa errada. Mas não é uma questão de pessoa. Eu e o governador tivemos uma reunião com um médico muito renomado e ele comentou que, por conta do sistema atual da saúde, você pode colocar a maior sumidade na secretaria que não vai resolver. Tem que fazer uma mudança radical, seria trocar seis por meia dúzia mudar o secretário. O mesmo vale para a articulação política, não é uma questão de pessoa, é uma questão de ter estratégia clara e definida. 

Acha que os insatisfeitos vão buscar um novo culpado a partir de agora?

Certamente. Mas como a Casa Civil a partir de agora vai ter um perfil mais baixo, ele vai se blindar disso. Não vai ser porta-voz, não vai ter área de comunicação com ele. Vão encontrar novos alvos. Uma das minhas funções era justamente ser um anteparo do governador.

O que achou da escolha do seu sucessor?

Não vou julgar, já ouvi opiniões diversas, algumas positivas e outras negativas.

O governador agora vai ficar refém da Câmara?

Espero que não. Acho que as relações com a Câmara podem ser estabelecidas em bases corretas. Hoje, há uma falta de estratégia política do governo. Dentro de critérios da nova política é possível estabelecer uma relação com a Câmara, para que os deputados deem sua contribuição no governo, mas que não seja na base de coisas impublicáveis.

A pressão não republicana é muito grande?

Sempre foi, desde a transição. Mas o governo tem que dar o parâmetro.

Como ficou a sua relação com o governador?

Hoje (ontem) mesmo eu estive com ele no Buriti. Nossa relação está boa. Sempre defendi que assessor tem que dizer a verdade. Assessor que só elogia e puxe o saco é um mau assessor, mesmo que isso custe o emprego. Agora fico até mais à vontade, já que não posso mais perder o emprego.

O fato de o governador não ter uma base sólida na Câmara atrapalha muito?

Um dos grandes erros cometidos pelo Rodrigo e pelo PSB foi na formação da chapa. Eles negociaram mal, aceitaram as imposições do PDT. O mau jogador de pôquer é aquele que cai fácil no blefe. E eles caíram no blefe do PDT ao fazer uma chapa única, que acabou elegendo três distritais do PDT e mais a Sandra Faraj, do Solidariedade.

Acredita mesmo que o Cristovam não quer que esse governo dê certo, como declarou na semana passada?

Acredito piamente. O Cristovam é muito vaidoso. Ele se considera a grande estrela da política brasiliense, embora não seja. Acho que ele não quer ninguém que faça sombra a ele. Ele teve papel residual na campanha, bem periférico.

E o apoio do Reguffe, acredita que foi fundamental?

O apoio do Reguffe foi decisivo para que as pessoas acreditassem na candidatura do Rodrigo, para dar credibilidade. O que chateia Reguffe é ele não estar sendo ouvido, onde eu acho que ele tem razão. Mas sobre o fato de o projeto dele de abatimento dos impostos dos remédios não estar sendo executado, acho que ele não tem razão. Ainda será executado, mas não é a hora.

Qual o maior problema para o Rollemberg?

Não ter uma base política, uma base parlamentar e uma base popular sólida. Ele tem uma base social instável, que ele conquistou na campanha, mas que facilmente se dilui, tem uma base parlamentar gasosa e não tem base política.

Então ele está sozinho? Tem como dar certo assim?

Ele está sozinho. O governo não tem bases. Bem ou mal, quando o Roriz assumiu, ou o Arruda, ou o Agnelo, eles tinham uma base política, uma base parlamentar. Rodrigo tem que construir essas bases, e isso está atrasado.

 

Fonte: Correio Braziliense 

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