Os policiais militares do Distrito Federal intensificaram a chamada operação tartaruga nos dois últimos meses. Esta semana, sete outdoors instalados em Samambaia, no Gama, em São Sebastião e no Paranoá cobram do governo isonomia salarial e reestruturação da carreira, além de comunicar uma assembleia geral de policiais e bombeiros às 9h do dia 13 de fevereiro, em frente ao Palácio do Buriti, sede do GDF.
O movimento disse que vai colocar mais 11 letreiros e distribuir 40 mil panfletos.
O secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, admitiu que houve queda na produtividade policial e disse que “não tem nada que justifique esse tipo de movimento”, porque há “diálogo com o governo” e que o termo “operação tartaruga” é pejorativo e que.
Segundo Avelar, mesmo sendo “legítimo o desejo de se resolver questões que são importantes para a corporação, mas o meio que tem sido utilizado, reduzindo a produtividade policial e aumentando alguns índices que são importantes para a comunidade, já não posso concordar com isso”. “Agora, é uma corporação que ao longo dos anos vem sendo falsamente estigmatizada como a mais bem paga do Brasil e essa realidade mudou. Não é mais a corporação mais bem paga do Brasil, embora isso não justifique o que tem sido feito no DF”, ressalta.
Outdoors – Um policial que não quis se identificar disse ao site G1 que os itens foram custeados pelos próprios servidores, que estão depositando quantias em uma conta específica. “Não somos a favor do aumento da criminalidade, mas preciso sustentar minha família”, disse.
Ele explica que, durante a ação, a categoria tem cumprido apenas o que é previsto na Constituição Federal. “Com a operação, não fazemos abordagem a carro suspeito, por exemplo, e não preservamos locais de crimes.”
Também atuante no movimento, o cabo Eliomar Rodrigues afirmou que cerca de 90% dos militares estão se sentindo desmotivados. “Outros setores da segurança pública receberam reajuste, a gente não. A gente se sente deixado de lado”, afirma.
Segundo Rodrigues, a mudança do comando da PM não trouxe nenhuma novidade em relação às negociações. O cabo, que está há 14 anos na corporação, afirma que a reestruturação do plano de carreira já deixaria os militares contentes.
“Se fizesse a reestruturação, que dá para ser feita ainda este ano, nós já ficaríamos satisfeitos. A isonomia não dá mais tempo neste governo, então não podemos cobrar algo que sabemos que não vai acontecer”, afirma Rodrigues.
Que vire um inferno – Enquanto isso, a polêmica vai para as redes sociais, onde policiais militares estariam comemorando a escalada da violência no Distrito Federal, em especial no Plano Piloto e nos lagos Sul e Norte, destacando os recentes assaltos à mão armada em casas e ao comércio. Nas trocas de mensagens, os supostos PMs torcem para que a situação piore e insuflam os colegas a deixarem de atender ocorrências e até a faltar ao trabalho apresentando atestados médicos, mesmo sem qualquer doença ou lesão, para fortalecer a Operação Tartaruga.
O Correio Braziliense divulgou que um grupo de discussão em uma rede social formado apenas por quem se diz PM ou bombeiro do DF há “comentários agressivos daqueles que deveriam zelar pelo bem-estar do cidadão brasiliense. Alguns não economizam nas ameaças e nas agressões verbais, principalmente a quem vive nas áreas mais nobres”.
Numa das postagens, um internauta com o pseudônimo de Xingu diz: “Este pessoal da Asa Sul, Asa Norte, Sudoeste, Lago Sul e Norte só sabem (sic) cobrar trabalho da PM, por que não cobram também um salário digno ao policial, um plano de carreira decente, que motive o PM a trabalhar??? Quero mais é que vire um inferno Brasília, f…-se estes bacanas do Plano!”.
Xingu incentiva os militares a apresentarem atestados de saúde falsos para faltar ao trabalho e, assim, diminuir o contingente nas ruas. “Eu continuo na minha operação tartaruga particular. (sic) esta semana mesmo meto mais 30 dias de atestado.” Outro, identificado somente como “A Cara da PM”, destaca os casos recentes de roubo no Plano Piloto. Diz que, só assim, os militares conseguiram o que querem: “…Tartaruga forte no Plano Piloto, só assim venceremos…”. Outro anônimo, que assina apenas como “?????????”, festeja o caso de um homem de 23 anos baleado duas vezes na barriga durante um assalto a uma loja, em um posto de combustíveis, na 307 Sul, em 19 de janeiro.
Sites – Segundo o Correio, PMs e bombeiros também criam sites para difundir a Operação Tartaruga, atacar a sociedade e afrontar o comando. Um deles, intitulado Rede Democrática PM e BM, lançou o projeto Multa zero 2014.
Os administradores da página pedem aos colegas policiais para não multarem nenhum motorista até que o GDF ceda e atenda as reivindicações da categoria. Sem multas, defendem os inventores da campanha, os PMs ganham a simpatia da população e pressionam o governo com queda na arrecadação.
“Troco na Copa” – Em imagens gravadas no dia 5 de dezembro, durante um café da manhã dentro do 11º Batalhão de Polícia Militar, em Samambaia, um sargento diz ao secretário de Segurança que, caso a categoria não seja contemplada com reajuste salarial, os PMs “darão troco” na Copa do Mundo de 2014. Na época, a pasta não comentou o vídeo e o comando da corporação diz que estava avaliando as informações.
“A Copa do Mundo ‘tá’ vindo aí. E eu vou falar para o senhor, em nome de nossa categoria, é a nossa vontade. Se a Polícia Militar não for contemplada, como outros órgãos da Segurança Pública foram contemplados, o troco nós vamos dar na Copa do Mundo. O senhor secretário leve essa mensagem [ao governador Agnelo Queiroz]”, disse o sargento.
Segundo Avelar, a gravação ocorreu de maneira clandestina. “Era uma conversa informal, que foi sendo noticiada como um ato unitateral. O sargento em uma conversa informal, expondo o ponto de vista dele. Eu também expus o meu, usando muito mais tempo que ele”, ressaltou.
O secretário disse ainda discordar da exposição do vídeo. “O que acho ilegítimo e acho covarde é filmar e divulgar somente um trecho, criando um fato falso. A gente está trabalhando para poder justamente resolver essas situações de maneira civilizada, negociada, para que a gente não tenha problema na Copa do Mundo”.