Brasilienses marcam edição de rolezinho em shopping

Publicado em: 15/01/2014

Brasilienses já articulam a primeira edição do rolezinho na capital federal, em solidariedade ao episódio em São Paulo. “Rolezinhos” são os encontros em shoppings que vem sendo marcados pela internet, começaram em São Paulo desvelando o que o sociólogo Wagner Iglecias e o PhD em administração Rafael Alcadipani descreveram como um “apartheid à brasileira”. O local escolhido é o Iguatemi, no Lago Norte.

No evento criado no Facebook, mais de mil pessoas já confirmaram presença na manifestação que está marcada para o próximo dia 25 de janeiro. 

A presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião com os Ministros da Cultura e da Justiça para estudar o tema. Segundo a TV Record, o receio de Dilma é que grupos ligados ao crime organizado se aproveitem do fenômeno para cometer delitos.

Solidariedade – A descrição do evento na rede social diz que a intenção do movimento não é promover arrastão ou atos de vandalismo, mas sim demonstrar a solidariedade às vítimas de violência policial durante as manifestações do mesmo tipo, que foram realizadas em São Paulo.

Em nota, o shopping Iguatemi de Brasília informou apenas que tem como procedimento padrão atuar para garantir a segurança e a tranquilidade de seus clientes, lojistas e colaboradores. Já a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal ainda não comentou se haverá um esquema especial de policiamento para a região no próximo dia 25. 

Pele clara – Sérgio Lopes, um dos organizadores do rolezinho em Brasília, é morador de Planaltina, no Distrito Federal reforça que “o que os jovens querem é apenas garantir o seu direto de lazer em qualquer lugar”. Outro organizador, Franklin Rabelo, diz que o combate aos encontros parte de setores conservadores e preconceituosos e lembra que nos rolezinhos semestrais da Universidade de São Paulo (USP) não há reclamação pois “são pessoas de pele clara”. 

Para Iglecias e Alcadipani, “o rolezinho demonstra o paradoxo da elite brasileira, que por um lado quer crescimento econômico, mas por outro quer manter os de pele marrom confinados na senzala. A muralha que o rolezinho escancarou é formada por uma Justiça muitas vezes conivente com a desigualdade social, fato que se expressa em alguns casos como foi em Pinheirinho e agora nos rolezinhos”.

Rolezinho ­ – Segundo levantamento de reportagem do R7, o primeiro rolezinho registrado em São Paulo ocorreu no dia 8 de dezembro, no shopping Metro Tatuapé. Na ocasião, 6.000 jovens organizaram um baile funk dentro do shopping, houve correria e muitos lojistas fecharam as portas para se proteger do grande número de pessoas.

Na semana seguinte, no dia 14, 23 pessoas foram detidas suspeitas de envolvimento em um arrastão no Shopping Internacional de Guarulhos, após um novo rolezinho. No dia 23, o encontro marcado pelos jovens foi no shopping Campo Limpo, zona sul de São Paulo. No entanto, a reunião quase não teve público devido à presença de muitas viaturas da Polícia Militar no local. Temendo um arrastão, lojistas chegaram a baixar as portas por alguns minutos.

No último fim de semana, a Policia Militar e equipes do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) foram acionados para atender a uma suspeita de arrastão no shopping Center Norte, na zona norte cidade. Cerca de 300 pessoas se encontraram no shopping e causaram um princípio de tumulto.

O último caso ocorreu neste sábado (11). O rolezinho marcado no shopping Itaquera, na zona leste de São Paulo, terminou com três jovens — sendo dois adolescentes — detidos. Segundo a PM, foi preciso usar balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar o grupo. O centro de compras diz que recebeu cerca de 3.000 participantes do encontro e a corregedoria da PM vai avaliar se houve excesso dos policiais na ação em Itaquera.

História – Afora os episódios históricos de segregação e apartheid mundo afora, vale resgatar o episódio de agosto de 2000, quando um grupo de manifestantes sem-teto foi de ônibus ao shopping Rio Sul, em Botafogo, zona sul do Rio, para protestar contra a desigualdade social. Com grande cobertura da imprensa, o fato ganhou proporção devido à reação dos comerciantes e frequentadores do espaço.

Para Ivana Bentes, professora e pesquisadora da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o evento que aconteceu há 13 anos ajudou a revelar um preconceito velado, que as pessoas sabiam que existia, mas que não era tão exposto. “Pode-se considerar um dos atos mais importantes de intervenção política eficaz. Naquela época era estranho uma pessoa pobre visitar um shopping. A classe C daquela época ainda não tinha esse poder aquisitivo”, ressalta.

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