Comissão de DH do Senado pede inquéritos de caso sobre “Amarildo do Cerrado”

Publicado em: 22/10/2013

A senadora Ana Rita (PT-ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, solicitou às polícias Militar e Civil do Distrito Federal cópias dos inquéritos que investigam o desaparecimento do auxiliar de serviços gerais Antônio de Araújo, que sumiu após abordagem policial em Planaltina, na madrugada de 27 de maio em um caso comparado com o sumiço do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde 17 de maio, após ser abordado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.

 

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no DF vem buscando informações com a ordem no Rio de Janeiro sobre a atuação da entidade no caso do desaparecimento de Amarildo. A ideia é que as informações ajudem na atuação da OAB-DF no caso do desaparecimento de Antônio. Segundo a relatora do caso na Comissão de Direitos Humanos da entidade, Mariana Melucci, a entidade não está afirmando “que há correlação, que o Antônio é o Amarildo do cerrado, são situações diferentes, não dá para comparar, Mas essa troca de experiência pode ajudar”. 

 

A Comissão do Senado quer também informações sobre as medidas adotadas pela Polícia Federal no caso e eventuais resultados das investigações. A OAB reclama de morosidade nas respostas. “Ao que tudo indica, não há informações de quebra de sigilo telefônico, de rastreamento das viaturas. Não foram produzidas provas técnicas. Cem dias após o desaparecimento, parece que ainda estamos na fase dos depoimentos”, disse

 

Entenda – Antônio de Araújo foi visto pela última vez na madrugada de 27 de maio. Segundo depoimento dos policiais que o abordaram, ele tinha sintomas de embriaguez e foi levado à 31ª delegacia de polícia, após entrar na chácara de um policial militar. Na versão dos agentes, ele foi liberado após consulta que indicou que não havia investigação ou condenação contra ele. O auxiliar de serviços gerais não aceitou carona para voltar para casa e desapareceu após sair da delegacia, segundo os PMs.

 

Nenhuma ocorrência foi registrada, apesar de os policiais confirmarem que Araújo tinha um ferimento nas costas e era suspeito de entrar na chácara de um sargento da PM para furtar. Duas viaturas, cada uma com três PMs, participaram da ocorrência.

 

Investigações – A Polícia Civil do DF foi acionada pela família no dia 27 de maio, por meio da 31ª delegacia de polícia. O inquérito, que hoje está na Divisão de Repressão a Sequestro (DRS), só foi aberto no dia 16 de julho. Até o momento, essa instância ouviu familiares do auxiliar de serviços gerais, cinco dos seis policiais envolvidos na abordagem, além do dono da chácara onde Antônio teria entrado. Provas técnicas que poderiam comprovar a versão dos policiais, como rastreamento das viaturas e quebra do sigilo telefônico dos envolvidos, foram solicitadas em setembro, mas não havia resultados até a semana passada.

 

Na Polícia Militar, o objetivo da investigação é avaliar a conduta dos dois sargentos e quatro cabos que levaram o auxiliar de serviços gerais à delegacia. O órgão instaurou inquérito que investiga suposto crime militar em 26 de agosto – mais de 90 dias após o desaparecimento de Araújo. O inquérito deve ser encaminhado à Justiça até o dia 26 de outubro.

 

A Corregedoria da PM, que cuida do inquérito, informou que não comenta os casos sob investigação.

 

Amarildo – No caso Amarildo, após perícia, foram identificados quatro policiais militares que participaram ativamente da sessão de tortura a que o ajudante de pedreiro foi submetido ao lado do contêiner da UPP da Rocinha, na Zona Sul do Rio. Segundo informou o Ministério Público, nesta terça (22), a identificação foi feita através da análise de vozes.

 

De acordo com a promotora Carmem Elisa Bastos, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital torturaram Amarildo depois que o ajudante de pedreiro foi levado para uma "averiguação" para a base da UPP. Amarildo está desaparecido desde 14 de julho.

 

Ainda segundo o MP-RJ, mais 15 policiais militares, entre eles três mulheres, foram denunciados pelo órgão, totalizando 25 acusados pelo crime. As três policiais militares foram denunciadas por tortura – uma delas havia prestado depoimento na semana passada. Dos novos denunciados, três terão a prisão preventiva decretada e, segundo a Corregedoria da PM, será pedido o afastamento do cargo de todos que tiverem a prisão decretada.

 

Quatro PMs que estavam no contêiner durante a execução de Amarildo não foram denunciados, já que a promotoria entendeu que eles foram coagidos a aceitar a situação.

 

Com informações do G1.

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