O Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial e o Núcleo de Combate à Tortura Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) denunciaram nesta quarta (17) nove policiais civis, um policial militar e um ex-agente da Polícia Civil do DF, que participaram das investigações do crime conhecido como caso Villela, ocorrido na 113 sul, em 28 de agosto de 2009. De acordo com a denúncia, eles sequestraram a filha do ex-porteiro Leonardo Alves, suspeito do triplo homicídio para que ele confessasse o crime.
Segundo o MPDFT, um ex-presidiário procurou a 8ª DP no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), “indignado com a crueldade do crime”, para informar que teve conhecimento no presídio acerca dos autores do triplo homicídio. Dessa forma, a delegacia passou a realizar diligências investigatórias, mesmo sem ter atribuição territorial e regimental para investigar o delito.
O ex-ministro José Guilherme Villela, de 73 anos, a mulher dele, Maria Villela, de 69 anos, e a empregada da família foram assassinados com 78 facadas. Quatro pessoas foram indiciadas e a suspeita é de que a filha do ex-ministro tenha contratado três pessoas, que já estão presas, para executar o crime.
Sequestro – Segundo o MP, em 15 de novembro de 2010, os policiais prenderam Leonardo na casa da sogra, sem as formalidade legais. Os policiais colocaram a vítima dentro do veículo, cobriram a sua cabeça com um pano escuro e o conduziram até a sua residência para realizar a busca e apreensão. Durante as diligências, objetos foram quebrados e um tiro foi disparado dentro do local. Depois ele foi levado até a cidade de Manga (MG), para mantê-lo incomunicável e distante de seus familiares e conhecidos.
No trajeto, os policiais levaram Leonardo Alves para um matagal e constrangeram-no com emprego de violência e grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico e mental, a fim de obter a confissão do triplo homicídio. Na tarde do mesmo dia, após socos e ameaças de morte, a vítima confessou a participação no delito, sem dar detalhes. Os policiais levaram Leonardo a Montes Claros (MG). No caminho, ele foi mais uma vez torturado. Enquanto isso, sua filha Michelle, no Recanto das Emas, também era vítima dos policiais José Raimundo de Carvalho, Keve Joaquim da Gama, Joaquim Ezequiel Machado e do ex-agente Estanislau Montenegro.
Colocaram Alves em contato com Michelle e informaram que ela tinha sido sequestrada e foi então que ele teria apresentado a versão supostamente verdadeira do crime. No dia 17 de novembro de 2010, o delegado José Batista e os agentes Maria do Socorro, Edelviges Felipe Neto e o policial militar José Leôncio foram até a delegacia de Montalvânia (MG), colher depoimento do detento Paulo Cardoso Santana.
Os policiais pediram para que a vítima confessasse o crime da 113 sul, pois Leonardo Alves já tinha falado sobre a participação dos dois no triplo homicídio. Também sob tortura, ele confirmou a história.
Denúncia – O delegado José Roberto Soares Batista foi denunciado por abuso de autoridade, tortura e supressão de documentos; os agentes Sidney Pacheco Monteiro, Edi Vânia Santana, Helton Lopes Tavares, Edelviges Felipe de Oliveira Neto, Maria do Socorro Pinto e o policial militar José Leôncio de Araújo por abuso de autoridade e tortura. Já os agentes José Raimundo Mendes de Carvalho, Keve Joaquim Amancio da Gama, Joaquim Ezequiel Machado e o ex-agente Estanislau Dantas Montenegro foram denunciados por tortura.
Segundo apurou o MPDFT, o então diretor-geral da PCDF Pedro Cardoso, e o diretor do Departamento da Polícia Circunscricional, André Victor do Espírito Santo, tinham conhecimento do fato. A Divisão de Comunicação da PCDF informou que a Comissão Permanente de Disciplina já apura o ocorrido por meio de processo administrativo disciplinar e que irá solicitar cópia da denúncia para instrução do processo.
Inicialmente, o caso foi investigado pela 1ª Delegacia de Polícia. Entretanto, em decorrência de várias irregularidades cometidas durante o trabalho, a Polícia Civil instituiu uma comissão para dar continuidade às investigações, que durou pouco tempo. Logo o caso passou para a Corvida (Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida).
O então delegado Elivaldo Ferreira de Melo, sob o comando da delegada Deborah Souza Menezes, formulou pedido de prisão temporária de Leonardo Campos Alves, bem como busca e apreensão na residência do suspeito, em Montalvânia/MG, e na de sua filha Michelle da Conceição Alves, no Recanto das Emas. O pedido foi deferido pela Justiça local, sem a oitiva obrigatória do Ministério Público.
Com os mandados expedidos, a delegada Deborah Menezes encaminhou os agentes da 8ª DP Sidney Pacheco Monteiro, Edelviges Felipe de Oliveira Neto, Helton Lopes Tavares, Maria do Socorro Pinto e Edi Vânia Santana, além do delegado José Roberto Soares Batista, à cidade mineira. O sargento da Polícia Militar José Leôncio também integrou a equipe.
Com informações do G1 e do R7.