“Deputado entende tanto de bactéria quanto jegue de religião”. Esta foi a declaração do governador Agnelo Queiroz (PT-DF) ao comentar a vistoria da Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa do Distrito Federal ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), nesta terça (23). A visita foi convocada em caráter de urgência pela presidente da comissão, deputada Liliane Roriz (PSD).
Neste sábado (20), dois bebês morreram, um dia depois da reabertura da maternidade do HRC, que passou por desinfecção. Segundo a secretaria, três crianças foram infectadas pela bactéria. Uma teve alta e duas morreram. No HRC, foram oito crianças mortas em 18 dias no HRC.
Em nota, Liliane Roriz lamentou a opinião do governador e disse que é importante ter sensibilidade para encontrar solução para este “grave problema na saúde do DF”, ressaltando que várias mães perderam seus filhos recém-nascidos na maternidade do hospital em questão.
No comunicado, ela afirma ainda que Agnelo tem como prioridade o investimento de R$ 1,2 bilhão “em um estádio enquanto um surto de bactéria fica sem combate” por falta de dinheiro e finalizou a nota dizendo que entende de religião e é sensível às questões da saúde, principalmente quando ela “falha com a vida dos mais humildes”.
Serratia – Ao todo, 11 recém-nascidos morreram no HRC, após um surto da bactéria Serratia. A Secretaria de Saúde do DF confirmou que apenas dois óbitos foram provocados pela bactéria. As demais mortes, segundo a pasta, estão sendo investigadas. Procuradas para comentar a nota de Liliane, as assessorias do governador Agnelo Queiroz e da Secretaria de Saúde não se pronunciaram até a publicação desta reportagem.
No dia 11 de abril, o presidente da Casa, Wasny de Roure (PT), também esteve no HRC para ouvir diretamente dos servidores do hospital informações sobre as possíveis causas das mortes. Na ocasião, aspectos como superlotação de pacientes, falta de profissionais e crianças com baixa imunidade foram apontados como cenários de risco para infecções hospitalares.
A transmissão da bactéria Serratia ocorre principalmente por causa da falta de higiene nas mãos. Ela causa problemas na coagulação do sangue. Pacientes com baixa quantidade de plaquetas estão mais suscetíveis a anemias e hemorragias.
Vistoria – Liliane afirmou que considera importante obter informações que esclareçam as causas dos óbitos e acredita que algo estranho está ocorrendo na unidade hospitalar de Ceilândia e é preciso agir. “É dever de a Câmara Legislativa exigir esclarecimentos. Queremos conhecer as instalações e saber o que há de errado numa unidade que deveria justamente garantir a tranquilidade dos pais e zelar pela sobrevivência dos bebês”, disse.
A assessoria de imprensa da distrital informou que enfermeiros, materiais e medicamentos estão em falta e que a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) continua interditada. Em nota, a Secretaria de Saúde negou que a UTI neonatal do HRC não está interditada e que os oito leitos estão ocupados. “A Secretaria de Saúde do DF possui 4.886 médicos. Em dois anos, foram contratados mais de dez mil profissionais, entre médicos, enfermeiros, odontólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, nutricionistas e técnicos de várias especialidades”, diz a nota.
Segundo a pasta, nesta terça (23), foram empossados 299 novos técnicos administrativos. Além disso, a SES abriu contratação temporária para 50 pediatras e outros 50 neonatologistas. “Os hospitais regionais, entre eles o HRC, também estão passando por revitalização. Foram adquiridos equipamentos de alta complexidade como tomógrafo, PET-SCAN, mesas cirúrgicas, camas elétricas, dentre outros que irão ampliar a capacidade de atendimento na rede pública de saúde do DF”, informa o comunicado.
Com informações do R7.