Diretora do Sindsaúde nega denúncias e diz que “não conhece” o genro (com vídeo)

Publicado em: 17/04/2013

Na semana passada, Câmara em Pauta publicou matéria denunciando uma série de irregularidades no Sindicato dos trabalhadores em Saúde do Distrito Federal (Sindsaúde-DF) e informou que em breve traria mais novidades sobre o caso, denunciado e documentado por uma comissão de funcionários demitidos e de servidores da entidade. Nesta terça (16) recebemos a informação de que uma equipe de reportagem esteve na sede do sindicato e que a presidente da entidade, Marli Rodrigues (Foto), negou conhecer uma das pessoas envolvidas nas denúncias. Trata-se do genro dela.

Tivemos acesso a escalas de pessoal que seriam de fachada, com a assinatura da própria Marli em que constam a filha dela e o genro. Ao ser questionada sobre a “funcionária” Maria Luiza Rodrigues Vale, que não comparece ao trabalho no sindicato e inaugurou em janeiro último o “Estúdio de Beleza Toda Linda”, no shopping Flórida Mall, no Guará, região administrativa do Distrito Federal. O salão teria sido construído com dinheiro desviado do Sindsaúde, segundo as denúncias, mas Marli teria negado a denúncia e dito ao repórter que ela não era funcionária da entidade.

 

Câmara em Pauta teve acesso ao contrato de trabalho dela, assinado em 2008 no valor de pouco mais de R$ 1.400. Segundo nossas fontes, ela nunca deu meia hora sequer de expediente, mas recebia os salários, que inclusive teriam sido reajustados e hoje estariam em torno dos R$ 3.500 mil.

 

Já a denúncia sobre o genro “desconhecido”, Hemerson Varlly Soares Farias é de recebimento de repasses de valores diversos. O que intriga Câmara em Pauta é o motivo que um sindicato teria para fazer tantos repasses, inclusive um de R$ 500 mil e outro de R$ 495 mil a um desconhecido, a título de reembolso. Alguns comprovantes desses pagamentos podem ser vistos aqui. 

 

Em tempo, no site do Sindsaúde nesta terça (16) foi postada a informação de que uma equipe de reportagem procurou a entidade e que Marli falou sobre “nova gestão de moralização do órgão”. Hoje (17) pela manhã a publicação estava indisponível, mas pode ser vista aqui.

 

Fantasmas – Há documentos que comprovam depósitos feitos pelo Sindsaúde em contas de diretores ou familiares; denúncias de funcionários fantasma que só aparecem na sede da entidade para receber o salário, diretamente da diretoria do sindicato; “ajuda de custo” para diretores arbitrada em torno de R$ 50 mil em reunião fechada da cúpula e não votada em assembleia, como manda o estatuto; uso do dinheiro do sindicato para pagar despesas pessoais como compra de carro e custeio na abertura de empresa e até mesmo o custeio de uma campanha eleitoral para deputado distrital.

 

O que mais chamou a atenção da equipe de Câmara em Pauta nesses documentos, foi a presença de alguns nomes, como o da vereadora de Cidade Ocidental Kedma Karen (PT) e o do secretário-geral do Partido dos Trabalhadores do DF, Sandoval de Jesus. Kedma recebe salário e dá expediente no Sindsaúde, mesmo tendo sido eleita para estar trabalhando em seu mandato na Câmara de Vereadores. Já Sandoval, segundo funcionários e ex-funcionários, só aparece na sede da entidade para receber o salário, diretamente das mãos de Marli.

 

Diretoria – O Sindaúde foi fundado no dia 28 de dezembro de 1979. Desde então, a mesma gestão vai trocando os cargos, revezando entre as mesmas pessoas. Um dos diretores que está há mais de 20 anos nas gestões da entidade é Agamenon Torres Viana, que já foi presidente, hoje é tesoureiro, tendo trocado de lugar com Marli, a antiga titular da tesouraria. Durante a campanha de Agamenon, o Sindsaúde se transformou em comitê de campanha e teria sido a partir daí que as dívidas cresceram de tamanho, levando à atual situação.

 

Entretanto, segundo os denunciantes as irregularidades sempre ocorreram, mas foi a partir da presidência de Marli que os desvios deram um salto enorme nos valores das transações que antes giravam em torno dos R$ 10 mil e hoje alcançam os R$ 78 mil, como o caso de um cheque que tivemos acesso. Dois cheques no mesmo valor: um está em nome de um dos diretores, Vander Borges, e o outro do Credsaúde. O segundo aparece como “nulo”, mas o primeiro foi sacado. A folha anulada “apareceu” após um questionamento feito em reunião, mas o Credsaúde nunca recebeu o valor. Veja aqui os dois cheques.

 

Outras denúncias – Repetimos que há ainda a suspeita de tráfico de influências. “A diretora do sindicato nos disse que pagou R$ 200 mil a um procurador para que ele segurasse a carta sindical do Sindat”, relata outra testemunha. O Sindat seria a entidade análoga, para a qual os técnicos e auxiliares de enfermagem poderiam migrar, fazendo assim concorrência com o Sindsaúde.

 

Há ainda Heitor Martins Galheta, que mantinha uma escola de informática dentro do sindicato, o que deveria custar R$ 10 mil à entidade, pela contrapartida da prestação de serviço que consistia em aulas gratuitas para os funcionários. Documentos comprovam que ele recebia R$ 26 mil e, segundo os denunciantes, repassava os R$ 16 mil de volta à entidade.

 

Repercussão – Nossa matéria recebeu muitos comentários. A maioria anônimos, alguns defendendo o Sindsaúde e seus diretores e falando que as demissões teriam sido por incompetência. A grande maioria dos comentários, porém, fala em cabide de empregos e alguns chegam a fazer novas denúncias, que, como não estão devidamente documentadas como as demais a que tivemos acesso, não repetiremos.

 

Questionamos aqui qual a relação do Sindsaúde com outras entidades de defesa dos trabalhadores, como os sindicatos e a Justiça, já que providencias não saõ tomadas diante das pendências judiciais não respondidas e denúncias reiteradas de que as dívidas trabalhistas não são pagas, após a primeira parcela que regulariza a situação. 

 

Em nossa primeira matéria, informamos que não conseguimos contato pelo telefone da entidade. Desde então, nossa reportagem vem ligando para o telefone da sede do sindicato sem sucesso. Diante do fato de a energia estar cortada e de haver uma ordem de despejo das salas que a entidade ocupa no Edifício Nordeste, que fica no Setor Comercial Sul, pela falta do pagamento de alguns meses do aluguel, imaginamos que o telefone também pudesse estar cortado. Pelo sim, pelo não, mantemos aberto o espaço para que a diretoria se manifeste e responda aos questionamentos. 

 

Veja a reportagem da Globo com parte das denúncias que fizemos: 

 

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