O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) postou um vídeo na internet, nesta quinta (11), a pretexto de defender o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), de quem já se disse “soldado”. Para isso, ele ataca o professor brasiliense Cristiano Lucas Ferreira, classificando-o como “mau exemplo para as crianças” por ser homossexual.
No vídeo, o deputado mostra falas de Cristiano em manifestações e eventos em defesa dos direitos de Lésbicas Gays, Bissexuais Travestis e Transexuais (LGBT) dizendo que o professor do ensino fundamental no Distrito Federal, afirmando que é “esse tipo de pessoa” que quer a saída de Feliciano da Comissão. “É esse tipo de pessoa, com esse comportamento, que você quer nas escolas?”, diz Bolsonaro na introdução do vídeo, ao comentar um episódio em que o ativista afirma sua orientação sexual dizendo “sou viado (sic) sim, sou viado”.
Edição – Após repetir por diversas vezes esta fala do professor, Bolsonaro mostra uma edição da participação de Cristiano em uma sessão da CDHM, antes de Feliciano assumir o cajado, mas como fez na vez em que atacou a psicóloga Tatiana Lionço, a fala é editada, sem uma conclusão do discurso. “É esse tipo de professor que você quer na escola, educando o seu filho? Isto é ou não é um estímulo à pedofilia e ao homossexualismo (sic) na primeira infância?”, diz Bolsonaro.
No final, após a pergunta “de que lado você está”, o vídeo opõe Cristiano e políticos defensores dos direitos dos homossexuais, como o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), Erika Kokay (PT-DF), a ministra Maria do Rosário, Ivan Valente (Psol-SP) e outros, e Bolsonaro e Feliciano, apontados como defensores da “família”, dos “bons costumes” e “de nossas crianças”.
Ao comentar o caso no Facebook, o professor postou:
“Sobrevivi a um pai homofóbico, violento e alcoólatra;
Sobrevivi aos murros, chutes, cuspidas, xingamentos na infância;
Sobrevivi a um estupro coletivo na adolescência;
Sobrevivi ao primeiro ano de minha já longa carreira como professor quando em 94, os pais obrigaram a diretora da escola onde trabalhava a trocar meus alunos e alunas de sala, por eu ser gay;
Sobrevivi as dificuldades para entrar numa universidade pública;
Sobrevivi a homofobia na Casa de Estudantes onde morava;
Sobrevivi a perseguição política desde que comecei a militar no movimento estudantil, no MST, no movimento sindical;
Sobreviverei novamente;
Sobreviveremos!
Cuidado, moço!
Cuidado com esse ser que educa
Porque ele tem pacto com a imortalidade
E compromisso com a verdade e a LIBERDADE!”
Tribuna – Em 2011, durante a polêmica alimentada por ele em torno do “kit gay”, como o parlamentar chama o material antihomofobia, que seria distribuído a alunos das escolas públicas do país, ele clamou pela imunidade parlamentar depois de ser ameaçado de processo por quebra de decoro, ao atacar a presidente Dilma Rousseff, questionando sua sexualidade. “Eu tenho a tribuna. Eu posso pregar o que eu bem entender na tribuna. O artigo 53 [da Constituição] diz que sou inviolável. Eu não ofendi ninguém. Não pretendo ofender. Eu não penso nada [sobre a orientação sexual da presidenta Dilma Rousseff]. Quero saber do caso de amor que ela tem com o grupo LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e transexuais]. Quero que ela explique o caso de amor porque o kit gay continua aí”, declarou.
Há duas semanas, ao falar do Plano Nacional de Promoção e Cidadania de Direitos Humanos de LGBT’s, da Secretaria de Direitos Humanos e outros ministérios, ele disse que Dilma “não tem compromisso nenhum com a família”, por ter nomeado a ministra Eleonora Menicucci, a quem chamou de “sapatona”. Já sobre a ministra da Sedh, Maria do Rosário, ele afirmou que ela deseja criar uma cota para professores homossexuais, e Cristiano é exemplo do risco que isso pode trazer às crianças. Segundo ele, a medida fará com que os alunos, principalmente os mais pobres, tenham como exemplo "um traveco”.
Assista ao vídeo abaixo.