O Ministério Público Federal de Minas Gerais informou nesta quarta-feira (13) que enviou à Procuradoria da República no Distrito Federal o depoimento em que Marcos Valério, acusado e condenado de ser operador do mensalão, inclui o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no rol do envolvimento com a suposta compra de votos no Congresso Nacional. O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou 25 pessoas em dezembro, ao fim da Ação Penal 470.
A revista Veja também “vazou” este depoimento de Valério. Na época, o senador Fernando Collor (PTB-AL) acusou a publicação e o procurador Geral de “vazamento seletivo”. O procurador Leonardo Augusto Melo deve seguir com as investigações de repasses de dinheiro feitos pelo publicitário que não foram incluídos no processo do mensalão julgado pelo.
De acordo com a Procuradoria da República em Minas, o depoimento foi enviado a Brasília, por ser o local onde a suposta irregularidade ocorreu, mas os fatos que se relacionam às atribuições do MPF-MG seguirão sendo apurados. A cópia do depoimento chegou à sede da instituição, em Belo Horizonte, no último dia 13 de fevereiro, quando foi encaminhado ao Núcleo de Patrimônio Público pela Procuradoria Geral da República.
Marcelo Leonardo, advogado de Valério, afirmou que não foi informado sobre o encaminhamento do depoimento de seu cliente e que vai aguardar “eventuais desdobramentos” para que a defesa possa se pronunciar.
Depoimento – Em depoimento dado em setembro passado, Valério disse que Lula autorizou empréstimos dos bancos Rural e BMG para o PT, com o objetivo de viabilizar o esquema, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo". Além disso, de acordo com o jornal, Valério afirmou no depoimento que despesas pessoais do ex-presidente foram pagas com esse dinheiro. Como Lula é ex-presidente, portanto não tem mais foro privilegiado no Supremo, o processo não pode ser analisado na Procuradoria Geral da República.
De acordo com o Estadão, Valério procurou voluntariamente a Procuradoria Geral após ser condenado pelo STF a 40 anos, dois meses e dez dias de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas no processo do mensalão. Em troca do novo depoimento e de mais informações sobre o esquema de desvio de dinheiro público para o PT, Valério pretende obter proteção e redução de sua pena.
A oitiva de Valério ocorreu no dia 24 de setembro, em Brasília. As declarações estão em 13 páginas. O "Estado de São Paulo” afirma que teve acesso à íntegra do depoimento, assinado pelo advogado do empresário, o criminalista Marcelo Leonardo, pela subprocuradora da República Cláudia Sampaio e pela procuradora da República Raquel Branquinho.
Ainda segundo o "Estado de São Paulo", Valério que repassou R$ 100 mil para despesas pessoais de Lula, por meio da empresa Caso, de Freud Godoy, então assessor da Presidência da República. Disse também que o então presidente Lula e o então ministro da Economia, Antônio Palocci, fizeram gestões junto à Portugal Telecom para que a empresa repassasse R$ 7 milhões ao PT. Esses recursos teriam sido enviados por empresas fornecedoras da companhia, por meio de publicitários que prestavam serviço ao PT. Segundo a reportagem do jornal, as negociações com a Portugal Telecom estariam por trás da viagem a Portugal, em 2005, de Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino e o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri.
Mais envolvidos – A reportagem relatou ainda que Marcos Valério disse ter sido ameaçado de morte por Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e amigo do ex-presidente. “Se abrisse a boca, morreria. Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você”, teria dito Okamotto a Valério, em encontro num hotel em Brasília, em data não informada pelo depoente, segundo o jornal. Okamoto nega que tenha pressionado Valério e disse duvidar que o empresário tenha feito tais afirmações.
O Estadão afirmou também que no depoimento de Valério, ele disse que o dinheiro do esquema também foi usado para pagar a dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano e o publicitário Nizan Guanaes. Todos eles negaram ao Estadão ter recebido qualquer pagamento de forma ilegal.