TV Brasília não entrevistou, mas diz que estudante contou “mentira do bem”, no caso do CCZ

Publicado em: 24/01/2013

Apesar de o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Brasília e do Governo do Distrito Federal não apresentarem provas de que estudante de veterinária que relatou eutanásia no local mentiu, a TV Brasília, vinculada ao Correio Braziliense, reafirmou que era uma “mentira do bem” e que as providencias judiciais estavam sendo estudadas. Na reportagem, a TV Brasília diz que vai mostrar os dois lados da história, expõe Isabela Simas como mentirosa e diz que ela teria aplicado um trote. A estudante no entanto afirma que não foi ouvida pela emissora, nem mesmo em off. Dará direito de resposta? 

Câmara em Pauta foi o primeiro veículo de imprensa que repercutiu a informação e avisa mais uma vez ao GDF que a estudante Isabela Simas é apenas uma das fontes de uma informação que vem circulando na rede desde a semana passada e que não é a primeira vez que aparece um “boato” envolvendo o CCZ e a eutanásia de animais saudáveis. Também reafirmamos que as Organizações Não Governamentais (ONG) de proteção em Brasília reclamam da falta de transparência com relação aos animais que são eutanasiados.  

 

Sobre este fato em particular, antes de Isabela, outra estudante, Tchai Mussi, que inclusive aparece na postagem mostrada pela TV Brasília havia dado o alarme. A postagem dela teve mais de 800 compartilhamentos, inclusive o de Isabela. Nossa equipe, por sua vez recebeu a informação de muitas outras pessoas envolvidas com proteção animal. Algumas delas costumam frequentar o CCZ e após a matéria repercutir, há diversos relatos de pessoas que afirmam ter ouvido de funcionários do CCZ que a prática de sacrifício acontece de 10 em 10 dias e que animais que passam mais de dois meses sem ser adotados.

 

Algumas destas postagens foram feitas em postagem do perfil do próprio GDF no Facebook, como a de Kassia Vieira, que diz:

 

“Eu sei que eles matam animais que não tem doenças consideradas como zoonoses (cito cinomose, animais com câncer, fraturas, etc) e já mataram animais também por superlotação. Quem vai lá, sabe disso. É um local vergonhoso onde, diferente do que ocorre em vários outros Estados, não há identificação adequada, esterilização dos animais, acompanhamento de adoções, tratamento adequado dos animais, muito menos microchipagem destes. Tampouco sabem nos dizer quantos animais foram adotados nos últimos meses. Animais SOMENTE por serem do lago sul, lago norte, sobradinho e fercal NÃO podem ser doados e são eutanasiados por serem considerados de "áreas de risco de leishmaniose". Animais das raças pit bull, rotweiller, fila, ou qualquer vira-lata que se pareça com um desses cães não tem chance de sair, é morto. Qualquer animal que mordeu alguém ou foi considerado agressivo, por métodos ainda não esclarecidos pelo órgão, é morto. O tratamento da maioria do pessoal que trabalha no ccz, contratados antigos, é em grande parte das vezes rude com os animais, e até mesmo com as pessoas.

Daí eu digo, DIVAL [Diretoria de Vigilância Ambiental]: se você não vai tratar de um animal com diarreia e sim eutanasiá-lo, NÃO aceitem este animal. É responsabilidade do PROPRIETÁRIO cuidar deste animal e lhe dar atendimento veterinário. "Mudar para apartamento", "meu cachorro está com câncer" não é motivo pra um retardado ir lá e abandonar o animal dele pra morrer na zoonose e vocês o matarem. Não é!

Centro de Controle de Zoonoses é para controlar zoonoses. Isso não era para ser tão difícil! Não é local de abandono. Não é local de eutanásia de animal com cinomose. Não é abrigo de adoção. E meu amigo, se você compra/adota um animal, é pra vida inteira.”

 

Acesso à informação – Após toda a polêmica, muita gente, inclusive este Portal e a TV Record questionaram o fato de não ser possível fazer imagens das dependências do CCZ. Uma das ONG’s questionou o fato via facebook e recebeu a resposta da Secretaria de Saúde que não há legislação que proíba as imagens, mas que há uma norma interna. Em contrapartida, a TV Brasília conseguiu a proeza e a matéria mostra as gaiolas vazias, pessoas adotando, coisas do tipo.

 

Ao longo do dia, foi possível obter informações de pessoas que estiveram no CCZ nos últimos meses e relataram episódios que, no mínimo despertam ainda mais o enseio por maior transparência quanto à gestão do local. Alguns dos relatos aguardam autorização para publicação, mas é possível ver comentários deixados em páginas públicas no facebook sobre o assunto, como aparece no álbum criado na página do grupo de protetores Libertação Animal Bsb.

 

A matéria da TV Brasília parece não ter mostrado o mesmo ambiente encontrado pelas pessoas que relataram terem ido ao local, mas nós gostaríamos de informar que o CCZ não é abrigo e que isso é abandono, mau trato passível de punição segundo a Lei Federal 9.605/98, que estipula pena de detenção que pode ir de três meses a um ano, além de multa.

 

Protestos – Outro ponto que gerou quase tantos protestos quantos a possibilidade de eutanásia, é a postura do GDF em ameaçar as estudantes de processo em vez de resolver os problemas apontados no CCZ. A Associação Protetora dos Animais do DF (ProAnima), por exemplo, lançou nota de protesto contra a postura governamental e da mídia contra as jovens que fizeram um apelo pela adoção de animais do CCZ, no temor de que seriam mortos. “Isto deve ser motivo para diálogo e averiguação, não de intimidação. Transparência , prestação de contas e muitas mudanças são necessários no órgão. O CCZ é um órgão público, que deve servir à população, e não o contrário”, diz a nota.

 

A Proanima ressalta ainda que não é dever do CCZ receber animais, já que não tem função de abrigo. Em cima disto, Câmara em Pauta reitera que, para que o CCZ não receba animais, se portando como cúmplice em episódios de abandono, acreditamos que o próprio Estado teria que prover um local para este fim, uma vez que, de acordo com os artigos 1° e 2º, parágrafo 3° do Decreto Federal 24.645/34, “todos os animais existentes no País são tutelados pelo Estado”. “O CCZ que a população do DF QUER faz campanha de controle populacional, combate o abandono ao invés de estimulá-lo ao receber animais de quem não os quer mais, faz adoções cuidadosas, identifica animais, tem isolamento adequado para que animais não contraiam doenças”, diz a nota da Proanima.

 

Questionamentos – O grupo Libertação Animal Brasília fez alguns questionamentos, que vamos repercutir. “Diante da acusação, por parte de muita gente, de que animais são mortos no CCZ devido à superlotação do local e diante da posição do Governo do Distrito Federal, que insiste em dizer que "apenas" sacrificam os animais que oferecem risco à sociedade, a população se vê diante de um tema que precisa ser encarado. O que acontece de fato no CCZ? Ninguém sabe ao certo. Animais entram, animais saem, animais são sacrificados. Quantos entram, quantos saem e quantos são eutanasiados? Por quê?”

 

Já Câmara em Pauta gostaria de levantar mais uma questão e lançar um desafio ao GDF: em vez de discutir a culpa ou não das estudantes que jogaram ao vento uma informação que já circula à boca miúda há muito tempo, porque não resolver os problemas no CCZ? Também desafiamos o GDF a deixar de ser cúmplice em casos de maus tratos e abandono por omissão, já que outro tipo de "boato" que publicamos sobre o tema é de que denúncias de maus tratos contra animais domésticos não têm sido averiguadas e afinal, a Polícia é vinculada ao Estado. 

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