Cerca de quatro mil crianças com idades entre 10 e 13 anos são chefes de família, ou seja, responsáveis pela administração e realização de tarefas domésticas de suas casas no Distrito Federal. Os dados são de uma pesquisa feita pela Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal), entitulada como "Retrato da Infância e da adolescência no DF".
Os estudos, baseados nos censos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) de maio deste ano, mostram que existem 478.481 mil crianças na capital federal. Deste total, 3.827 (0,8%) delas comandam as casas onde moram, na maioria das vezes são ocupadas por outras crianças ainda mais novas.
A secretária da Criança, Rejane Pitanga, contou à reportagem do R7 que o grande problema, que pode explicar o crescimento do trabalho infantil e o grande número de crianças chefiando suas casas, é a falta de investimento por parte do Estado.
— Estamos em processo de transição para começarmos uma parceria junto com a Sedest (Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do DF). O Governo Federal liberou recursos para os governos passados justamente para investir nessa área, mas o dinheiro precisou ser devolvido porque não foi aplicado.
Rejane relatou que a criação de políticas públicas está acontecendo na gestão atual e a expectativa é que, nos próximos anos, este índice reduza significativamente.
— Ausência de educação integral, de creches e de escolas bem qualificadas são pontos a serem analisados. Existem pais que não querem ou não conseguem colocar os filhos nas escolas e preferem que eles trabalhem, com a argumentação de que é melhor a criança trabalhar que ficar nas ruas. Isso é um absurdo, lugar de criança é na escola. Essa cultura precisa ser revertida o mais rápido possível.
Este é o caso do garoto Lucas, de 11 anos. O menino mora na Estrutural e trabalha desde os oito anos no lixão da cidade. Como não é sempre que ele consegue entrar no aterro, que proíbe a permanência de crianças e adolescentes, o jovem lava carros, engraxa sapatos e, quando consegue, vende balas em ônibus e semáforos da região.
Ele contou à reportagem do R7 que mora na casa de madeira, construída pelo pai, que morreu há três anos vítima de um latrocínio (roubo seguido de morte), e não tem família. Por conta disso e pelo fato de ser o mais velho, precisa trabalhar para "não deixar faltar nada em casa".
— Só tem eu e meus dois irmãos mais novos. Se eu não fizer nada, todo mundo passa fome. Nós não temos ajuda de ninguém, não temos parentes e nem conhecemos nossa mãe.
Para contornar o problema, o GDF anunciou, em junho deste ano, a construção de 110 novas creches e pelo menos 30 centros de educação infantil em um ano e meio.
Apesar dos números preocupantes, a secretária da criança informou que está otimista em relação à resolução desta questão a curto e médio prazo.
— O DF sem Miséria completou um ano há pouco tempo e temos números realmente positivos. A partir de agora, por meio dessa parceria com a Sedest, acreditamos que as políticas sociais e os recursos destinados a elas serão aplicados melhor para começarmos a reverter este quadro.
Denuncie
A Central SOS Cidadão do DF registrou 45 chamadas este ano e foram 175 denúncias nos conselhos tutelares desde o primeiro semestre do ano passado. A Secretaria da Criança informou que esses serviços são importantes e que a própria comunidade pode ajudar, denunciando práticas de exploração do trabalho infantil irregulares, para que medidas sejam tomadas rapidamente.
Do R7 DF.