Por Leiliane Rebouças – Seria um "negócio da China", se não fosse com o governo de Cingapura a nova empreitada do Governo Agnelo! E diga-se de passagem, negócio sem licitação, claro!
A partir dessa quarta feira, via contratação direta no valor de US$ 4,2 milhões a serem pagos parceladamente, a cada entrega das partes do projeto, a Terracap fechará negócio com a Jurong Consultants Pte,- braço do Ministério da Indústria e Comércio do governo cingapuriano – para elaborar uma série de estudos, relatórios e projetos integrando quatro grandes eixos – Pólo de Desenvolvimento JK, Centro Financeiro Internacional do DF, Cidade-Aeroporto e Pólo Logístico.
O Projeto "Brasília 2060" , como foi batizado , nasceu na missão internacional à Ásia liderada pelo governador em julho desse ano. Ao que parece, o governo de Cingapura revelou interesse em exportar seus projetos de planejamento urbano, social e econômico. No último contato oficial, um jantar oferecido na casa do governador, os cingapurianos já esboçaram a idéia do que seria o plano macro de desenvolvimento do DF. "O planejamento consiste na integração das áreas, facilitando a mobilidade urbana, e preocupação com meio ambiente, moradia e lazer", segundo afirmou para um blogueiro de Brasília, o chefe da Assessoria Internacional do GDF, Odilon Frazão.
Mas, será que é mesmo necessário contratar uma empresa asiática para planejar Brasília até 2060? Estaria faltando no Brasil e em Brasília,técnicos e universidade com " know how" para tanto? Será que os asiáticos conhecem bem mais do que nossos urbanistas brasileiros, brasilienses de nascimento ou de coração, sobre o Plano Piloto de Lúcio Costa que norteia a nossa cidade? Será que as intenções asiáticas cabem no Projeto de Lúcio Costa tombado pelo Patrimônio Cultural da Humanidade?
Será que não há no Brasil know how na área de Ciência e Tecnologia? Por que contratar asiáticos, e não brasileiros que conheçam a experiência asiática?
Quando decidiram construir Brasília na década de 50 do século passado, era pré-requisito para o Plano Piloto da cidade , que ele fosse feito por urbanistas e arquitetos brasileiros. O modernismo da cidade é inspirado em várias cidades do mundo, nas cidades parque, nas cidades lineares, uma junção de urbanismo e arquitetura que a tornou como diz um dos maiores críticos de Arquitetura do país, André Corrêa do Lago: " o berço e túmulo da arquitetura moderna".
Se Brasília foi inspirada em várias cidades do Mundo porém planejada urbanisticamente por um brasileiro , pré-requisito essencial do seu Plano Piloto, por que agora, 52 anos após sua construção, o planejamento urbano de algumas novas regiões da cidade até 2060 deverá ser feita por uma empresa estrangeira asiática?
Já temos tantas discussões sobre o futuro de Brasília por aqui mesmo, feita por experts que conhecem a cidade e são comprometidas com ela, tantas instituições e a academia estão há anos discutindo a cidade para os próximos 50 anos! era mesmo necessário contratar quem não conhece nossa realidade para planejar o nosso futuro?
Creio que Agnelo fez do conhecimento dos urbanistas brasileiros e da Academia uma "tábula rasa"! Sua atitude em contratar tal empresa estrangeira ignorando o know how dos técnicos e urbanistas da cidade, bem como da própria Universidade de Brasília que vem discutindo e contribuindo com as questões da mobilidade parece, à primeira vista, um desrespeito.
Cingapura pode ser exemplo mundial em várias questões urbanas, mas essas não são ignoradas pelos urbanistas brasileiros! Eles, provavelmente, adequariam muito melhor os bons exemplos asiáticos à nossa realidade!
*Leiliane Rebouças é Bacharel em Relações Internacionais, Mestranda de Turismo da UNB e Ativista de Direitos Humanos.