Capitão prega boicote a Comissão da Verdade

Publicado em: 06/06/2012

“Se vocês tiverem em seu poder registros dos acontecimentos da luta travada contra os comunistas, desfaçam-se ou guardem-nos em lugar seguro. Não cooperem com o inimigo.Nenhuma informação deve ser prestada que leve aos locais onde foram enterrados ou deixados ao relento os corpos dos terroristas e guerrilheiros mortos. Não atendam a quaisquer tipos de intimações para comparecer diante de um tribunal de exceção em que se transformará esta dita Comissão da Verdade Nacional”

 Estes trechos foram retirados da sombria cartilha que vem tentando propagar entre os militares a incitação de crimes, como a supressão de documentos, desobediência e falso testemunho com o intuito de boicotar a Comissão Nacional da Verdade. A comissão, instalada no mês passado pela presidente Dilma Rousseff, vem apurando as graves e inúmeras violações aos direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura.

Tamanha é a contradição e frieza do suposto autor da cartilha, o capitão da Frente Nacional contra a Comissão da Verdade, José Geraldo Pimentel, que este, mesmo incitando os colegas a mentir e esconder a triste e sanguinária verdade do que ocorreu na época de chumbo e pau-de-arara, afirmou em alto e bom som que a Comissão da Verdade é uma “comissão da calúnia” e ainda por cima convocou os quartéis a ficarem de prontidão para qualquer sinalização do comandante do exército para boicotarem a Comissão de Verdade.

“Uma atitude firme que tomada pelo comandante do Exercito deve funcionar como uma sinal para que as Forças Armadas o apoiem incondicionalmente, colocando-se em prontidão. É preciso reagir!” afirmou incisivamente o capitão conclamando em tom de guerra, os colegas a lutarem contra supostos “inimigos” da pátria.

Com suas botas de chumbo o capitão vem tentando pisotear o importantíssimo trabalho desta Comissão, que há muito já deveria ter sido realizada para investigar as barbaridades que foram feitas contra os considerados ‘’terroristas’’ na época da ditadura.

Por fim a baderna?

É estranho escutar o capitão simplesmente dizer que os agentes do Estado fizeram certo em por fim à “baderna” que se instalava no país. Ora, que resumo mais insosso, a verdade é mais cruel. Não sabemos qual é o fantasioso significado de baderneiros para o capitão Pimentel, mas cremos que para o contexto, mais verdadeiro seria dizer que foram aqueles que ousaram desafiar minimamente o sombrio sistema, a tão glorificada “ordem” repressora. E por favor não se esqueça senhor, que estes, foram perseguidos, torturados ou calados para sempre em um dos muitos porões sombrios de ideologias esquizofrênicas, e estes devemos dizer, eram anexos dos quarteis encerados e impecavelmente limpos que o capitão tanto clama.

Providências

A Procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Gilda Pereira de Carvalho oficiou o Ministério da Defesa, cobrando providência. “Tal manifestação poderá vir a ser enquadrada pela autoridade competente como crime contra a paz pública. Em que pese as críticas naturais e salutares à democracia, nos preocupa o tom pejorativo do documento, ao classificá-la como comissão da calúnia”. Explicou. A procuradora cobrou que esse tipo de manifestação seja repelida no âmbito institucional.

O Ministério Público Militar (MPM) também já pediu que o Exército instale Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar a criação dessa cartilha. A resistência dos militares à Comissão da Verdade é antiga. Em fevereiro, a presidente Dilma Roussef orientou o ministro da Defesa a coibir manifestações contrárias ao grupo.

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