Antítese perfeita: Policarpo da Veja X Policarpo Quaresma

Publicado em: 19/05/2012

“O grande inconveniente da vida real e o que a torna insuportável ao homem superior é que, se se transferirem para ela os princípios do ideal, as qualidades tornam-se defeitos, de modo que, muito frequentemente, o homem completo tem bem menos sucesso na vida do que aquele que se move pelo egoísmo ou pela rotina vulgar.” Lima Barreto na epígrafe de Triste fim de Policarpo Quaresma.

Assim começa o livro de Lima Barreto, mas aqui, nós vamos falar de outro Policarpo, o Júnior, diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, parece ser a exata antítese do Policarpo de Lima Barreto. Um era nacionalista e extremamente idealista e o outro se preocupa apenas com seus interesses e com sua vida comum. O jornalista Policarpo, ao contrário do Quaresma, a cada dia se complica mais em uma história de corrupção muito maior que o Mensalão, a história que ele e o periódico onde ele trabalha sempre tentaram vender como a maior de todos os tempos.

Policarpo da Veja – Tratamos aqui da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal no dia 29 de fevereiro deste ano levou à prisão o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira e mais 35 pessoas. Desde então, vêm surgindo diversos “afluentes” envolvidos com os negócios espúrios de Cachoeira. Policarpo não escapou e nesta sexta (18), novos áudios da Operação vazaram na internet e complicam ainda mais a situação de Policarpo Júnior.

Em gravações interceptadas no dia 10 de maio de 2011, Cachoeira conversa com o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu, deixando claro que Policarpo sabia da ligação do contraventor com a Delta, mas, segundo o bicheiro, o jornalista não iria divulgar nada porque a intenção era mostrar outra questão ligada à empresa. Cachoeira chega a dizer que Policarpo não os “colocaria em roubada” e que ele sabia de tudo sobre a relação de Cláudio Abreu, a Delta e o bicheiro.

Confira o trecho em que Cachoeira fala com Cláudio Abreu: “O Policarpo é o seguinte: ele não alivia nada, mas também não te põe em roubada, entendeu? Eu falei, eu sei, ó: “Inclusive vou te apresentar depois, Policarpo, o Cláudio, eu sou amigo”, eu falei que era amigo do cê de infância. E ele: “Então, ele trabalha na sua empresa”, falou assim, “vai me contar que você tem ligação com ele”. Ele [Policarpo] sabia de tudo. “Eu não vou esconder nada de você não, Policarpo, o Cláudio é meu irmão, rapaz”.

Antítese – Policarpo Quaresma, que passava parte do tempo enfiado nos livros e era criticado por não ter titulação acadêmica, tocar violão e é tão nacionalista, que acaba internado num manicômio, após redigir um documento em linguagem indígena.

Já o Policarpo de Veja não teria motivações nacionalistas, portanto não tinha interesse em publicar a ligação de Cachoeira com a Delta, porque a intenção dele e do periódico era mostrar que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) havia ajudado a Delta a “entrar em Brasília” durante a gestão do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda. Não por acaso, José Dirceu foi um dos políticos derrubados com a história do Mensalão.

No final de semana anterior à conversa, a revista Veja havia publicado a reportagem “O segredo do sucesso”, vinculando o crescimento da empresa Delta à consultoria de José Dirceu. Segundo Cachoeira, no diálogo gravado pela PF, Policarpo o consultava porque confiava nele:

“Aquela hora eu tava com Policarpo, rapaz. Antes do almoço ele me chamou para conversar. Mil e uma pergunta, perguntou se a Delta tinha gravação, defendi pra caralho vocês, viu. […] O Policarpo, ele confia muito em mim, viu? Vô ter que mostrar a mensagem que ele mandou antes, 10 horas da manhã para me encontrar aqui em Brasília, eu tava aqui fui me encontrar com ele”. Cláudio Abreu pergunta se “O cara vai aliviar pra cima da gente?” e Cachoeira confirma que a história que Policarpo queria era outra e pede que o ex-diretor da Delta esqueça o assunto.

CPMI – Na última reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), na quinta (17) o requerimento do senador Fernando Collor (PTB-AL), que teve apoio de parte da bancada do PT para que a Polícia Federal enviasse as gravações telefônicas das conversas entre Cachoeira e o jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal da revista Veja e um dos redatores-chefes da publicação. Também foi rejeitado o pedido de resgate do depoimento do jornalista à CPI dos Bingos em 2006, em que o jornalista depôs a favor de Cachoeira.

O pedido de Collor se justifica ainda mais, após depoimento do delegado da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues, responsável pela Operação Monte Carlo. Ele informou à comissão que o jornalista Policarpo Júnior sabia das ligações entre Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Mesmo assim, Veja mostrava para seus leitores Demóstenes como referência de ética no Senado.

A relação entre Policarpo, Demóstenes e a Veja foi denunciada na revista Carta Capital nesta sexta (18), após o depoimento do delegado, apontando este como um dos mais importantes até o momento. Segundo a revista, o delegado falou bastante sobre a relação de Cachoeira com a imprensa e que Policarpo seria o único jornalista da grande imprensa que aparece sistematicamente nas gravações.

O fim e a Quaresma – Policarpo Quaresma fez projetos para o Brasil e nenhum deu certo e após mandar uma carta ao presidente Floriano Peixoto, é preso e acusado de traição à pátria e isso acarreta a sua morte injusta. Já o Policarpo da vida real está vivendo sua quaresma, mas pela experiência política que o Brasil tem vivido, podemos apostar que o fim deste será bem mais feliz, porém tão injusto quanto o do outro.

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