Que a Câmara Legislativa do Distrito Federal não é composta por uma bancada de santos, é público e notório e a imprensa aí está para fiscalizar e trazer à tona o que é de interesse do povo. Porém o exagero e a manipulação da notícia é condenável em qualquer tipo de veículo, principalmente para os que se dispõem a atuar reportando fatos. Reportagem é nada mais nada menos que a informação transformada em texto ou produto audiovisual, após a apuração de fatos. Usar os fatos apurados para tentar induzir a opinião pública contra ou a favor de quem ou o que quer que seja é tentar manipular, através da criação de factoides, que é a informação não comprovada, mas que é aceita como verdadeira, devido à repetição dada na imprensa.
Na edição deste domingo (11) do Correio Braziliense, traz a seguinte manchete: “Cada distrital quer um carro de luxo. E quem paga é você”. A matéria fala sobre a possibilidade aventada pela CLDF para a compra de 26 carros para servir aos mandatos. Sim. É verdade que a CLDF estuda a compra de carros para servir aos gabinetes, mas a forma como o Correio apresenta é no mínimo tendenciosa e repleta de ilações. Ocorre que, por mais que não concordemos com algumas leis, elas existem para ser cumpridas. Uma delas é a que versa a respeito da Verba Indenizatória, cuja utilização é largamente criticada, inclusive pelo Correio. A CLDF tem um argumento no mínimo aceitável para a compra, dado pela própria imprensa, incluindo também o Correio mais uma vez: a reclamação relativa aos gastos mensais com locação de automóveis.
A reportagem de hoje chega a sugerir que tipo de carro poderia vir a ser comprado para a Casa, cujo gasto total seria de R$ 2,3 milhões. Segundo a reportagem, se o carro escolhido for de um certo modelo e marca, cada um a R$ 90 mil reais. O próprio Correio Braziliense publicou no dia 10 de fevereiro uma matéria sobre o aumento da verba indenizatória onde criticou o fato dos 20 mil reais servirem para o pagamento de locação de automóveis.
Seguindo esse raciocínio, se cada parlamentar tem direito a verba indenizatória de 20 mil por mês, no fim do ano, cada gabinete tem direito a R$ 240 mil reais por ano e cada gabinete poderia então comprar dois carros do modelo sugerido e ainda sobraria algum troco para a gasolina. E isso sem tocar nos R$ 960 mil anuais economizados pela extinção dos subsídios que eram pagos ao fim e no início de cada ano legislativo, no valor de duas vezes de R$ 20 mil para cada deputado. Os dinheiro dos famosos 14º e 15º salários não vão para o bolso dos distritais, mas obrigatoriamente têm que ser gastos na Casa.
Não que o Câmara em Pauta concorde em como o dinheiro é gasto, mas gostaríamos de entender porque o jornal diz que o dinheiro das locações de automóveis é mal gasto, mas em seguida critica a compra de automóveis próprios. Não estamos interessados em demonizar o Correio e nem beatizar os distritais, mas cobrando um pouco de coerência no exercício jornalístico que é uma das mais importantes ferramentas de que a sociedade dispõe para saber o que realmente está acontecendo nos três poderes, sem puxar a brasa para a sardinha de ninguém.
Também não sabemos qual seria a melhor solução para resolver os problemas do mundo, mas acreditamos que para nós que estamos na CLDF cobrindo as atividades, o melhor é tentar alertar sobre os perigos das leis, antes que elas sejam votadas, afinal nem tudo que é legal é moral e para cobrar ética dos políticos, devemos ao menos seguir o código de ética do jornalismo.