Na última terça (14), um incêndio provocou a morte de 356 detentos no presídio de Comayagua, cidade entre a capital Tegucigalpa, e San Pedro Sula, em Honduras. Trata-se do maior desastre do gênero registrado dentro do período de mais de um século e do maior incêndio em uma prisão latino-americana. Dentro da prisão, os detentos usavam celulares à vontade e onde os grupos chamados “maras", gangues que operam mesmo detrás das grades, impunham suas leis.
Cerca de 400 detentos que sobreviveram ainda estão no edifício, alojados em tendas de campanha e dormindo a poucos metros dos corpos dos mortos. De acordo com o ministro da Segurança de Honduras, Pompello Bonilla, por enquanto há poucas alternativas para realojar essas pessoas e o sistema penitenciário do país está em colapso. "Somos um país pobre. E nos últimos anos têm aumentado o crime organizado e o narcotráfico. Isso impediu que déssemos uma resposta cabal ao problema da superlotação dos presídios”, afirmou Bonilla.
ONU – A imprensa divulgou um documento oficial que aponta que 57% dos presos de Comayagua ou aguardavam julgamento ou estavam detidos por suspeita de serem membros de gangues locais. Nesta sexta (17), a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu investigação independente sobre o incêndio, que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos classifica como a “consequência de uma série de problemas endêmicos, como a superlotação carcerária”.
De acordo com o porta-voz do organismo, Rupert Colville, o Alto Comissariado "apoia plenamente a criação de uma profunda investigação independente sobre as causas do incêndio e para determinar se as condições na prisão contribuíram para as enormes perdas de vidas".
O presidente Porfirio Lobo se comprometeu a fazer uma investigação e apurar as responsabilidades. Funcionários responsáveis pela administração carcerária foram removidos de seus cargos. Lobo admitiu na coletiva de imprensa que alguns presos fugiram durante o incêndio, mas não informou quantos. Já o Ministério da Segurança e polícia afirmaram que não houve fugitivos. "Outros presos que fugiram, mas vão ser capturados; ou seja, não sei quantos dos que estavam na prisão fugiram, mas eles têm que ser capturados", declarou.
Sinistro – O presídio de Comayagua tem capacidade para cerca de 400 pessoas, mas havia cerca de 800 quando tudo aconteceu. Ainda não se sabe o motivo do incêndio, mas há rumores de violação de direitos humanos durante o episódio. Parentes de vitimas questionam sobre celas que não foram abertas e há relatos de presos que dão conta de que ninguém destrancou as portas das celas e que para escapar, muitos tiveram que derrubar paredes. Há familiares de detentos em vigília diante de presídio, aguardando informações.
Um brasileiro que estava preso em Comaguaya, Adilio Gomes Sobral disse à Folha de São Paulo que os agentes penitenciários se negaram a salvar os presos. “Os policiais encarregados de abrir os portões jogaram fora as chaves. Queriam que todo mundo morresse… Vi muitos amigos morrerem. Também vi quando retiraram os mortos. Todos queimados. O fogo comeu tudo. Só o esqueleto ficou”, afirma Sobral.
Com informações da BBC, AFP e do Blog do Miro. Foto, AFP.