O Brado Retumbante de FHC

Publicado em: 25/01/2012

“Aécio Neves”. Esta foi a resposta imediata e sintética de Fernando Henrique Cardoso a uma das perguntas feitas em uma entrevista concedida ao The Economist no último dia 12 de janeiro. O entrevistador havia questionado ao ex-presidente quem seria o candidato óbvio do PSDB à presidência em 2014.  A entrevista foi publicada pela pelo periódico estadunidense na última quinta (19), três dias após a estreia da minissérie “O Brado Retumbante”, na rede Globo de televisão, cuja semelhança do protagonista com Aécio já foi questionada pelo Câmara em Pauta na semana passada.

Na entrevista, FHC não poupou o atual governo de críticas, desde as veladas às mais diretas, como a afirmação de que no Brasil, “Sempre tivemos algum grau de corrupção, aqui e ali, mas o sistema não era corrupto. Agora o sistema permite a corrupção como um ingrediente normal. Todos sabem que quando você organiza um governo você tem que partilhar poder com os partidos. Mas você não está partilhando poder, você está partilhando oportunidades de ter bons contratos”.

Especulações – A declaração de FHC ao The Economist chega num momento em que as redes sociais estão cheias de especulações dando conta de que o PSDB já entrou de sola na campanha presidencial para 2014. A primeira hipótese levantada, foi a minissérie da TV Globo. A segunda, não menos discutida e com uma carga bem mais pesada veio na esteira do episódio em Pinheirinho, quando o governo do estado de São Paulo foi acusado de atropelar as negociações pacíficas.

No último domingo (21), após a operação de guerra deflagrada para cumprir a reintegração de posse da área do Pinheirinho em São José dos Campos, no Vale do Paraíba em São Paulo, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência informou que o Palácio do Planalto vinha acompanhando as conversas sobre a retirada das famílias da área e trabalhava por uma saída, com a definição de uma nova região para abrigar as famílias e que o governador Geraldo Alkmin atropelara as negociações.

O que uma coisa poderia ter a ver com a outra? Especula-se que o PSDB agiu desta forma, para impedir que programas do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida ou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) entrasse na contenda em favor dos moradores, angariando a simpatia da população e em consequências, algumas vantagens eleitorais de praxe: votos e propaganda de feitos gloriosos.

Brado Retumbante – A minissérie global conta a história do advogado e político Paulo Ventura, vivido pelo ator Domingos Montagner, que acaba se tornando presidente do Brasil, cargo que deve ocupar por 15 meses. O personagem é descrito pelo autor Euclydes Marinho como um homem honesto, mas “mulherengo”.

De acordo com Marinho, a trama traduz um incômodo com a corrupção do país, mostrando um presidente da República “íntegro e honesto”. O diretor Ricardo Waddington, por sua vez fez questão de afirmar que O Brado Retumbante “é tudo ficção. Não tem nada a ver com alguém que está na política ou passou por ela".

FHC disse ao The Economist que “Aécio é de uma cultura política brasileira mais tradicional, mais capaz de estabelecer alianças. Ele tem apoio em Minas Gerais. São Paulo não é assim, sempre se divide, é muito grande. As coisas vão ficar mais claras depois das eleições municipais (em outubro de 2012). Provavelmente vamos ver uma forte luta interna no PSDB, entre Serra e Aécio”, indicando que provavelmente os tucanos ainda devem trocar algumas bicadas até definir quem sairá candidato de fato, com o perdão da rima e do trocadilho.

Quando publicamos matéria sobre a minissérie aqui no Câmara em Pauta, encerramos o texto dizendo: “Esqueçam as marchas contra a corrupção e outros episódios de denúncia e certas manobras como a mudança da capital do país. Qualquer semelhança deverá ser como mera coincidência. Ou vice versa…” Pois bem. Esse desfecho ainda nos parece servir como uma luva tanto à minissérie, quanto ao anúncio de FHC.

Leia aqui a íntegra da entrevista ao The Economist (texto em inglês).

Foto, JB Neto, Agência Estado.

 

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