Mulher enfrenta o preconceito e quer ser presidente do Afeganistão

Publicado em: 17/01/2012

Fawzia Koofi, foi a primeira mulher que ocupou o posto de vice-presidente no Parlamento do Afeganistão. Já sofreu duas tentativas de assassinato e diversas ameaças de todo o tipo, mas não se deixou abalar. Agora ela anuncia que sairá candidata a presidente nas eleições de 2014.

Em uma entrevista, direto da capital afegã, Cabul, Koofi falou sobre sua trajetória política e tudo que já enfrentou até hoje, graças ao regime Talebã onde as mulheres sofrem discriminação e preconceito desde o nascimento.

Ela conta que decidiu se candidatar no ano de 2005, acreditando que estar no Parlamento seria a melhor forma de ajudar as pessoas. Proveniente de uma família muito tradicional da zona rural do Afeganistão, a Província de Badakhchan, no noroeste do país, zona agrícola e pobre, ela relata que direitos das mulheres não eram uma prioridade na sua família.

Estudos – O drama de Koofi, segundo ela mesma, começou no dia em que ela nasceu. “O dia em que nasci foi o dia que eu deveria morrer. Ninguém, nem mesmo minha mãe, desejava que eu sobrevivesse, porque eu era apenas mais uma das centenas de meninas indesejadas nascida no Afeganistão a cada dia”. Além disso, o fato de a mãe quase tenha morrido ao dar-lhe à luz e a própria tradição familiar indicavam que ela estaria destinada aos cuidados da casa, mas decidiu nadar contra essa corrente e foi a primeira mulher da família a ir à escola e ela encontrou a oposição de toda a família. “Meu pai, que nessa época estava envolvido com política, impulsionou a construção de uma escola e não permitiu ajuda à sua própria filha”, conta.

Mesmo assim, terminou o colegial, estudou medicina e fez com que os irmãos mudassem de opinião, pois além de ser muito difícil entrar na faculdade de medicina, a mãe morreu nessa mesma época e tinha como maior sonho ver a filha na universidade.

Talebãs – Quando os talebãs tomaram o controle da capital afegã, em 1996, depois de dois anos de combates, continuando no poder até a invasão dos Estados Unidos em 2001, após os atentados contra o World Trade Center e o Pentágono, ela teve de deixar de estudar e ficar trancada em casa. “Via a vida por meio da janela da minha sala, e a única coisa que podia fazer era visitar o túmulo da minha mãe”, disse Koofi.

Os regime dos Talebãs caiu, mas deu início a outro período de instabilidade, com algumas mudanças sociais para as mulheres afegãs. Ela então retomou os estudos e se envolveu em projetos sociais, começou a ensinar inglês e a colaborar com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em nível local.


Nas primeiras eleições depois da queda do regime talibã, o clima era de euforia. “Especialmente as mulheres estavam muito entusiasmadas”, afirmou ela completando que sua entrada para a política seguiu o curso natural. Finalmente em 2005, com o apoio da família, conseguiu uma cadeira no Parlamento afegão, representando Badakhchan.

Eleições presidenciais – Sobre as próximas eleições, a parlamentar pondera que os talebãs também estão se preparando para as eleições de caso ganhem, o povo afegão terá perdido tudo o que conseguiu nestes últimos anos . Fawzia lembra ainda que o atual governo, do presidente Hamid Karzai, foi alvo de acusações frequentes de corrupção.

Mesmo com tantas adversidades, ela não se abala. “O plano é me candidatar nas eleições de 2014, vamos ver o que acontece”, diz a moça, afirmando ainda que muitas pessoas veem uma mulher no legislativo como algo positivo. De acordo com ela, o Parlamento afegão conta hoje com cerca de 27% de mulheres e as pessoas estão satisfeitas com o seu trabalho.

Boa sorte, Fawzia!

Com informações da BBC Mundo e Washington Post. Foto, arquivo pessoal de Fawzia Koofi. Para ouvir a entrevista em inglês, clique aqui.

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