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Acolher, não julgar e escutar são a chave para prevenção do suicídio

Publicado em: 13/09/2019

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nove em cada 10 suicídios poderiam ser evitados. A prevenção desse problema, complexo e multifacetado, foi debatida em audiência pública da Câmara Legislativa do Distrito Federal nesta sexta-feira (13), no mês conhecido como Setembro Amarelo – dedicado à conscientização da temática.

Referência nacional no trabalho de prevenção do suicídio, o Centro de Valorização da Vida (CVV) aposta na seguinte premissa: falar é a melhor solução para quem está em sofrimento. Voluntária da entidade desde 1996, a psicóloga Maria Amélia dos Santos ressaltou que “não dá para jogar os sentimentos para debaixo do tapete e fingir que eles não existem”. Ela explicou que a fala do outro deve ser acompanhada por uma escuta compreensiva, que é o que o CVV oferece. “Prevenimos por meio da valorização da vida, de aceitar o outro como ele é, sem julgamentos, por escuta ativa”, afirmou.

Maria Amélia listou uma série de dados que demonstram a importância de se mobilizar para prevenir as mortes por suicídio. No Brasil, por exemplo, a cada 45 minutos, uma pessoa tira a própria vida. Segundo ela, entre 2016 e 2018, o número de atendimentos do CVV passou de 1 milhão para 3 mi (veja abaixo canais de atendimento). Ela informou, ainda, que qualquer pessoa pode se voluntariar para ajudar. Para isso, basta ter mais de 18 anos e participar de um curso de formação.

“É importante ouvir e compreender o outro”, concordou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, deputado Fábio Felix (PSol), à frente da audiência pública. O parlamentar elogiou a metodologia empregada pelo CVV: “A escuta não é de direcionamento, é de acompanhamento, o que deixa a pessoa mais à vontade para falar”.

Também apostando no acolhimento por meio da escuta, o Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu/DF) oferece teleatendimento por meio do número 192. Além disso, conforme destacou a representante do núcleo, Marina dos Santos Dias, uma equipe integrada por médico psiquiatra, psicólogo, assistente social e enfermeiro realiza atendimento móvel após triagem. Apenas no primeiro semestre do ano, segundo informou, o Samu atendeu 792 casos de tentativa de suicídio. “A equipe é insuficiente. Precisamos de mais recursos pessoais e financeiros”, apontou, ao que o deputado Fábio Felix creditou ser responsabilidade do Legislativo avaliar formas de melhorar o orçamento para a área.

LGBTfobia – “Falar sobre a temática do suicídio a partir do recorte LGBT é muito importante. Nossa sociedade é LGBTfóbica, não aceita o afeto. Precisamos falar dessas opressões, que estimulam o adoecimento”, defendeu Felix.

“A taxa de suicídio na população LGBT é muito alta, em especial entre os homens trans. Eles ‘são suicidados’ pela sociedade, pois sofrem uma série de segregações”, lamentou Alessandra Jugnet, do grupo “Mães pela Diversidade”. Ela falou do sofrimento de ter perdido a filha adolescente e da importância de as famílias acolherem as diferenças e interagirem mais com seus filhos. “Minha filha não tinha mais vida social, não saía do computador”, contou, em tom de alerta.

Presidente da Frente Parlamentar de Valorização da Vida, a deputada Júlia Lucy (Novo) também comentou o papel dos pais no processo de prevenir as mortes precoces: “Não podemos olhar para o sofrimento de nossos filhos como se fosse frescura. E é preciso conversar, conversar e conversar, sem tabus”.

Escola e trabalho – Ainda durante a audiência pública, foi abordada a problemática nos ambientes escolares e locais de trabalho. Representante do Conselho Regional de Psicologia, Vitor Barros Rego alertou para os vários “gatilhos” que um caso de suicídio dispara na comunidade escolar e questionou os impactos da militarização em curso em algumas escolas. Além disso, o psicólogo defendeu ser necessário discutir, abertamente, sobre assédio moral nos ambientes de trabalho. “É preciso fortalecer as políticas de atenção à saúde mental, tanto de forma assistencialista, como preventiva”, resumiu.

Por sua vez, Lolla Sousa, usuária do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Taguatinga, defendeu a realização de campanhas de conscientização e prevenção do suicídio ao longo de todo o ano, e não apenas em setembro. Ela é autora da peça intitulada “Algum Valor”, que estimula as pessoas a buscarem “seu próprio valor” para continuar vivendo.

Onde buscar apoio

CVV – Ligue 188 (ligação gratuita, 24h) ou acesse www.cvv.org.br para chat, e-mail e local de atendimento presencial

Samu – Ligue 192

CAPS e Unidades Básicas de Saúde

 

 

Denise Caputo

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