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‘Geladeira solidária’ chega ao DF e ajuda moradores de rua da Asa Norte

Publicado em: 20/04/2019

Do Correio – Uma iniciativa caridosa chama a atenção de quem caminha pela 712/713 Norte. No Bloco H, em frente à Cura Acupuntura, há uma geladeira adesivada. Não seria nada demais se não fosse a finalidade: compartilhar excedente de alimentos com quem precisa. A misteriosa solidariedade chama a atenção de moradores da região e, sobretudo, de pessoas humildes que trabalham na área ou estão em situação de rua.

As amigas catadoras Elizabete Rodrigues do Santos, 41 anos, e Leidiane Germano Nascimento, 33, descobriram o projeto por meio de um amigo. Curiosas e, ao mesmo tempo, sem terem certeza do que esperar, seguiram até a quadra. Ao abrirem a porta da geladeira, se surpreenderam com uma variedade de comida para matarem a fome após longas horas de trabalho.

“Nós devemos pegar o que precisamos, mas sem deixar de pensar no próximo. É importante lembrarmos que há outros que também precisam. Saber de uma iniciativa como essa, em um feriado tão importante (Páscoa), me faz ter fé na humanidade. Fez-me ver que ainda há muitas pessoas boas entre nós, que querem ajudar, sem nos julgar”, afirma Leidiane, que mora com o marido na invasão da 909 Norte.

As amigas saíram carregando frutas, uma caixa de leite, cachorro-quente, pão e chocolates. Por parecer muito, Elizabete fez questão de frisar que tudo seria dividido com a família e outros conhecidos. “Ganhamos pouco e, para conseguirmos manter as coisas, deixamos de comer para economizar. Hoje, será diferente. Vamos nos alimentar, dividindo com os nossos colegas que estão na mesma situação”, esclarece.

A catadora mora com a filha de 22 anos e um netinho de 2, em um barraco no bairro Estância, em Planaltina. Nesse feriado, o bebê vai ganhar chocolate, pois Elizabete teve a sorte em encontrar um pacotinho com pequenos ovos de Páscoa, de 250g. “Não consigo nem imaginar o tamanho da felicidade dele”, valoriza Elizabete.

Mas, para que o projeto dê certo, é importante a ajuda de quem pode doar o que não fará falta à mesa. O advogado Pedro Azevedo, 27, é morador da região e soube da geladeira solidária pela internet. No mesmo instante, veio à mente as sobras da ceia familiar de Páscoa.

“Não consumiríamos mais e, em vez de acabar indo para o lixo, faremos o que é certo. Então, juntei a comida, trouxe para abastecer a geladeira e, consequentemente, ajudar quem precisa. Realmente, tenho fé de que o projeto vai auxiliar quem realmente precisa. Mais para a frente, pode-se pensar em expandir a iniciativa e, assim, alcançar pessoas que moram em locais ainda mais vulneráveis”, sugere o jovem.

O desejo de Pedro tem sido alcançado. Poucos minutos após deixar a comida, Ezequiel Severino dos Santos, 41, chegou empurrando o carrinho com materiais recicláveis e dois cachorros. Mesmo em situação de rua e com tão pouco para viver, não perdeu o senso de solidariedade. Abriu a geladeira e, em meio às opções que restaram, escolheu a marmita e uma caixa de leite.

“Não sou só eu quem precisa. Todos que vivem a minha situação precisam de pessoas que estendem a mão; por isso, só tenho a agradecer. Para quem vai consumir, é preciso saber que não se deve levar mais do que se pode comer. Se alguém vier e levar tudo, falta para o próximo, que também passa fome”, alerta o homem, que está em situação de rua há dois anos, desde que decidiu sair da casa onde morava com a ex-companheira.

Nos últimos meses, Ezequiel dorme na quadra onde foi instalada a geladeira. Apesar do tempo na rua, não conseguiu alcançar o objetivo de juntar dinheiro o suficiente para voltar à terra natal: Caruaru, em Pernambuco. “Passamos o pior na rua. A fome dói, mas ser tratado como lixo também nos mata aos poucos. Tenho me esforçado para sair, mas é difícil. Ontem mesmo (19/4), apanhei de um usuário de drogas que levou a cesta básica que ganhei. Ver uma iniciativa assim me deu forças”, afirma.

E se depender de moradores da região, o projeto Geladeira Solidária continuará a fortalecer e restaurar a fé uma vez perdida de pessoas tão humildes. João Paulo Moreira, 40, e a mulher, Luciana Moreira, 34, descobriram juntos do que se tratava a tão “movimentada geladeira”. Acompanhados dos filhos gêmeos, José Henrique e Maria Eduarda, de 7 meses, fizeram doações.

“O projeto é interessante, pois, aqui na área, vemos muitos moradores de rua. Sabemos que não são todos que são delinquentes ou errados. Em muitos casos, tratam-se de pessoas que acabaram sem nenhuma opção. Por isso é importante fazermos a nossa parte e ajudar. Isso vale para todos. O meu único medo é de que crianças ou adolescentes possam depredar uma iniciativa tão bela”, adverte João Paulo.

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