Por Cicelia Pincer*
Passei o dia com uma indignação tamanha a ponto de me travar a língua e paralisar o pensamento desde que, logo cedo, tomei conhecimento da capa da ISTO É desta semana.
De imediato, veio-me uma tristeza e uma vergonha imensas da profissão que escolhi. Sim, sou JORNALISTA. Sou jornalista por escolha e por formação. Escolha e formação conscientes e apaixonadas. E o paradoxo, implicado nesta afirmação, nunca foi problema, porque, desde sempre, acompanhado da responsabilidade e consciência ética que qualquer modo de ser e estar na vida , consciente ou apaixonado, implica.
Mas aí, ao longo do dia e diante dos mais diversos posicionamentos sobre aquela capa de revista – inclusive daqueles mais abjetos, nojentos mesmo porque só sabem afirmar a estupidez da ignorância, ou seja, do dizer que nada mais conhece do que o vil preconceito e desconhece o argumento – fui me dando conta de que a tristeza e a vergonha não hão de ser minhas; não hão de ser daqueles que acolhem o difícil caminho da inteligência, do respeito, da tolerância e da DEMOCRACIA.
A vergonha há de ser de quem usa a credibilidade, a responsabilidade, os imperativos éticos todos que legitimaram historicamente o jornalismo para, num simulacro pobre e vil, falar em seu nome.
A vergonha há de ser de uma publicação e de seus asseclas, que, escandalosamente, se valem de informações sem fonte legítima, credível e, sequer, identificada para divulgar o mais tosco preconceito.
A vergonha há de ser de uma publicação e de seus asseclas, que não se furtam a julgar e confundir comportamento individual e político, portanto, público.
A vergonha e tristeza hão de ser, portanto, para quem, se valendo de expressões vagas e paupérrimas, como “fontes do Palácio do Planalto”, por exemplo, atacam a Dilma não por sua competência ou incompetência política, mas como MULHER.
Duvidam? Então façam, por favor, um exercício, amigos: leiam a (suposta) reportagem da ISTO É e se perguntem como e por que, se valendo de fontes e aspas fantasmas, a (suposta) reportagem constrói uma imagem da Dilma, não como Presidente, não a partir de fatos e fontes que nos permitam avaliar sua competência política ( que é o que, afinal deveria estar em discussão), mas como uma histérica, louca, descontrolada, e que precisa ser medicada.
Se isso não for preconceito, alguém, em nome de Dadá, me explique o que é?
Isto posto, caros, é triste, é grave, é vergonhoso. Mas, NÃO É JORNALISMO, É PANFLETO. E DOS MUITO MAL FEITOS.
Cicelia Pincer* é Doutora em Ciências da Comunicação na instituição de ensino programa de pós-graduação em Comunicaçao Eca/Usp