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R.I.P. Steve Jobs

Publicado em: 08/10/2011

Por André Lemos – Quando soube da notícia da morte de Steve Jobs, hoje pela manhã, pensei: os Deuses não gostam muito dos gênios, dos que rompem a fronteira do sagrado e dão, aos homens, na esfera do profano, poderes. Os Deuses não gostam de dividir seus poderes, dos que misturam sagrado e profano. Quando Prometeu, o primeiro hacker da história da mitologia grega (que aliás está cheia deles), e talvez da humanidade, roubou o fogo dos Deuses para dar aos homens, a punição severa não tardou a vir. Os mitos gregos são sempre punitivos, punem a desmesura humana. Não podemos brincar de Deus!

Bom, Jobs não pensava assim.

Steve Jobs criou tudo que temos hoje em termos de informática pessoal. Com criatividade, design e irreverência nos ajudou a mudar a forma de uso dos computadores (ele capitaneou a “guerrilha” contra a Grande Informática, inventando a microinformática e o computador pessoal), a forma de escutarmos música, reinventou o telefone celular e agora, nos coloca de novo em uma era que parecia revoluta há séculos, a era dos tablets. Coisa mesmo demoníaca, dando aos homens comuns, tantos poderes técnicos. Ele não fez a internet, nem as redes sociais, mas sem os seus inventos, a cultura digital atual não existiria e mal poderíamos imaginar o que ela poderia ter sido. Imagine que futuro teríamos se ficássemos nas mãos da IBM ou da Microsoft!!!! E para quem acha que é exagero, vejam aqui uma listinha das inovações mais antigas. As mais novas estão entre nós (iPod, iPhone, iPad, iTunes…).

A grande diferença da Apple em relação às outras empresas é que a gigante de Cupertino oferece produtos performáticos (que simplesmente funcionam!), de fácil utilização (qualquer “poste” sabe usar) e esteticamente atrativos (design sofisticado, ao mesmo tempo simples e belo). Esse tripé é, ao meu ver, o grande diferencial do império de Jobs. A dúvida agora é? Ela continuará assim. A importância não é tanto para se ter produtos Apple. Mas precisamos de referências, de um modelo que todas as outras possam copiar e/ou inovar para se diferenciarem. E agora, ficaremos reféns da pobre Microsoft? Ou da gulosa e dispersa Google? Do Facebook? Qual será modelo?

Hoje me perguntaram qual foi sua maior inovação. Não saberia dizer: a invenção da microinformática? a reinvenção do walkman?, a invenção da iTunes?, o smartphone que marca uma era do antes e depois do iPhone? Os tablets? Difícil decidir.

Jobs roubava dos Deuses e dava a todos os mortais potências da comunicação e da informação. Ele era um assim modelo, um Hermes. Mas como os modelos só podem ser divinos, a heresia de Jobs foi punida com rigor. Só posso pensar que os Deuses são mesmo muito cruéis. Assim como aconteceu com Prometeu, que foi preso, acorrentado e condenado a ter o seu fígado devorado pelos abutres a cada novo dia, Jobs, o hacker criativo da distribuição da potência técnica da era da informação, foi condenado a ser ceifado ainda muito jovem, com um câncer no pâncreas. Também, quem mandou ele morder a Maça? Quem nos mandou morder a Maça?

Jobs falava que deveríamos continuar loucos e com fome.

Quem vai, agora, nos alimentar?

 

André Lemos é professor da Universidade Federal da Bahia
Faculdade de Comunicação
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas

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