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Promotora Deborah Guerner usa doença para se defender de acusações

Publicado em: 05/04/2011

Desde que vieram a público as denúncias de envolvimento de Deborah Guerner com a Caixa de Pandora, a promotora de Justiça se manteve calada. Acusada de ser comparsa do ex-procurador-geral de Justiça do DF Leonardo Bandarra em supostos crimes de extorsão, corrupção e formação de quadrilha, a conduta de Deborah, e de seu colega, será julgada amanhã pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Na ocasião, ela deve se defender pessoalmente pela primeira vez perante os conselheiros.

Na última sexta-feira, o Correio fez um pedido de entrevista diretamente a Deborah Guerner. A promotora aceitou falar, contanto que fosse por e-mail. A reportagem enviou as perguntas para o endereço eletrônico fornecido pela entrevistada. Era madrugada de sábado quando Deborah retornou para dizer que ainda não havia recebido a mensagem. Usou a ligação para fazer um alerta: “Tomem cuidado comigo, vocês não me conhecem…” No fim da tarde do sábado, encaminhou as respostas, elaboradas com 22 horas de tempo para reflexão.

Como adianta nesta entrevista, Deborah atribuirá atitudes suspeitas mantidas em companhia de Bandarra a seu problema de saúde — em vídeos divulgados no ano passado, os dois aparecem em conversas reservadas na casa da promotora. Ela alega no processo patologia mental. Ao Correio, disse que sussurrava ao ouvido do ex-procurador-geral de Justiça detalhes de sua enfermidade: “Para ninguém ouvir, falava, às vezes, no ouvido. Procurava convencê-lo que era sim vergonhoso aposentar por invalidez na minha idade”. Outra tática que a promotora usará em sua defesa é expor relações entre pessoas, algumas delas que tiveram papel fundamental no início das investigações da Caixa de Pandora.

Na versão de Deborah, a doença mental é justificativa não só para a relação próxima com Bandarra, com quem trocava telefonemas de madrugada, mas também explica um pouco da sua personalidade. A promotora de Justiça acusada de corrupção alega que uma das características de sua enfermidade é “gastar, gastar”. Apesar dos indícios de envolvimento com a Caixa de Pandora, entre eles um vídeo em que seu marido, Jorge Guerner, demonstra como faria, supostamente, para despistar policiais, Deborah nega qualquer envolvimento com a rede de corrupção no DF.

Questionada, no entanto, se considera verdadeiros os relatos narrados por Durval Barbosa, ela a princípio foi lacônica: “Sim”. Mas um dia após entregar as respostas, reformou a primeira versão, dessa vez por telefone: “Eu disse que sim, mas só que eu estava querendo dizer que sim com relação àquela fita em que ele (Durval Barbosa) estava entregando dinheiro (ao ex-governador José Roberto Arruda). Se não fica parecendo que é no nosso caso, no meu e no do Bandarra. Portanto, não acho nada”.

A senhora é acusada de formação de quadrilha, extorsão e corrupção, quando deveria defender o interesse público na condição de promotora de Justiça. Se corrompeu?
Não. Estou no Ministério Público há quase 20 anos e no serviço público há quase 30. Há 10 anos , sou titular da 2ª Promotoria da Fazenda Pública, isto é, atuo somente como custos legis, não tenho atribuição para fazer investigação, acordos ou assemelhados. Apenas oferto pareceres em processos judiciais. Não pertenço nem nunca pertenci ao Núcleo de Investigações Criminais ou ao Núcleo de Combate ao Crime Organizado, tampouco ao Centro de Inteligência, ambos integrados sempre por pessoas do grupo do procurador-geral e que são responsáveis pelas operações. Também nunca atuei nas promotorias do Patrimônio Público, e muito menos sou ou fui assessora de procurador-geral. Não tenho qualquer ingerência ou como saber o que está sendo feito nesses setores.

Os vídeos se tornaram as principais provas de acusações contra a senhora, seu marido e o ex-procurador-geral de Justiça Leonardo Bandarra. Por que a senhora gravou e guardou esses vídeos?
Os vídeos não são prova de nada. Nem de extorsão, nem de corrupção, nem de quadrilha ou qualquer crime que seja. Querer entender assim é deturpar a verdade. Meu marido é empresário e não atua em Brasília, portanto, nunca teve nada com o governo do DF. Sempre guardava dinheiro em casa pois tem uma folha de pagamentos enorme de funcionários, precisa estar prevenido. Além do que a minha doença exige disponibilidade de dinheiro para caso de socorro com internações no Sírio Libanês em São Paulo ou no Albert Einstein, onde meu plano de saúde do MP não cobre. Quanto ao Bandarra, não tem nada nos vídeos que comprove que ele ia lá em casa para cometer crimes. Ia me visitar pois, desde 2005, eu já apresentara sintomas de doença incompatíveis com o cargo de promotora de Justiça. Então ele, com receio de já estar afetando minha promotoria, vinha gentilmente me aconselhar que não era vergonhoso, como eu entendia, se aposentar por invalidez. A minha casa sempre foi toda protegida com cerca elétrica e sistemas de segurança para proteção contra ladrões. Gravei os vídeos porque o sistema de segurança grava naturalmente. E fizemos um cofre bem à vista no quintal, para se, por acaso, um bando de ladrões conseguisse passar por todos os sistemas de segurança, iria encontrar dinheiro, fitas velhas parecendo documentos e não fariam nada contra minha família.

Na gravação, seu marido mostra como despistaria a polícia, em caso de flagrante, indicando onde esconder dinheiro do casal. Era medo de quê?
Ele mostra como despistaria ‘os caras, ou seja, os bandidos’. Se fosse para despistar policial, primeiro ele não falaria ‘os caras’ e, depois, ia deixar o cofre bem à vista na terra, sabendo que a polícia tem equipamento para rastrear tudo? No mínimo tinha que cobrir essa terra e essa grama com alvenaria, tipo uma churrasqueira. Algo que não fosse tão fácil de enxergar.

Por que Leonardo Bandarra entrava e saía na sua casa de capacete?
Que diferença faz? Isso é prova de crime ou um simples ato normal de um motoqueiro?

O que a senhora conversava no ouvido dele?
Na verdade, eu mais discutia meu ponto de vista sobre a doença do que conversava. E para ninguém ouvir, os empregados da casa, falava, às vezes, no ouvido. Procurava convencê-lo que era sim vergonhoso aposentar por invalidez na minha idade. Doença é para ser escondida. Ainda mais doença da cabeça. Eu só falo agora porque tornou-se público, com laudos oficiais de dois psiquiatras renomados. Além dos laudos oficiais das perícias feitas por psiquiatras judiciais em mim por causa desses processos.

A senhora teve algum tipo de relacionamento com Bandarra que não fosse profissional?
Tinha um relacionamento de amizade com o Bandarra como ele tem com todos os promotores, apesar de pouco ter frequentado o 9º andar, onde era seu gabinete.

As investigações mostram que a senhora conversava muito com Bandarra, inclusive durante a madrugada. Que tipo de assunto era tratado?
Todo tipo de assunto, principalmente de minha promotoria e relativos a minha doença. Tínhamos uma coisa em comum: ambos dormimos muito tarde. Tenho insônia feroz.

Por que usavam vários números de celulares e falavam em códigos?
Tenho um telefone cujo numero é de 1988 ou 1989 . Outro de São Paulo em razão de meu marido, porque ele tem residência lá também, e um Nextel para falarmos quando eu estou lá e ele aqui. Muito se falou em códigos, porém nada foi provado.

A senhora pediu aposentadoria por invalidez alegando insanidade mental. Que tipo de doença a senhora tem?
Minha doença é especificada em lei e é sigilosa.

Como a senhora se sente sendo uma das protagonistas da Caixa de Pandora?
Injustiçada, difamada, desmoralizada, desonrada na minha vida pessoal e na minha carreira, vilipendiada na minha intimidade e privacidade. Em querendo atingir o ex-procurador-geral, pessoas inescrupulosas e sem passado honrado usaram a minha pessoa.

No seu entendimento, quem é José Roberto Arruda?
Mal o conheço. O vi na fatídica reunião em que, socialmente, apresentei duas autoridades que estavam assumindo o poder, Arruda e Bandarra. A reunião foi marcada por Paulo Octávio, a pedido do Bandarra. O Bandarra trouxe sua melhor amiga, (a promotora) Alessandra Queiroga, que integrava esses lugares onde havia as operações. Só fiz as honras da casa. O Jorge (Guerner) e o Paulo Octávio não falaram uma palavra. A Alessandra disse para o governador: ‘o senhor não está se lembrando de mim, mas eu sou muito amiga do Augusto Carvalho (ex-secretário de Saúde e hoje deputado federal)’. O Bandarra somente falou coisas triviais. Depois o Arruda disse: ‘Eu gostaria de ter uma conversa reservada com o senhor Bandarra, como duas autoridades’. Acho que foi no dia seguinte , não me lembro, encontrei, na entrada do elevador, o Arruda, que acabara de sair do gabinete do Bandarra. Depois o encontrei, também por acaso, umas duas vezes no MP. Depois houve a reunião em Águas Claras. Foi o Paulo Octávio que conseguiu a audiência. É tanta coisa que ele (Paulo) não está é se lembrando. Isso é normal e concebível, muita pressão. O Marcelo Carvalho (ex-executivo da Paulo Octávio Empreendimentos) sempre foi fiel escudeiro dele, acha que me levaria no Arruda sem o PO saber? Nunca, nunca, nunca. Agora, olha o óbvio que a comissão do CNMP nem o Dr. Ronaldo Albo (procurador regional da República que atua nas investigações da Caixa de Pandora) juntaram ao investigar. Fui ao Arruda preocupada com o que ia acontecer no DF porque a Cláudia Marques (ex-assessora do GDF) me falou que o Durval ia ‘explodir o governo do Arruda e do Paulo Octávio passando uma fita com o Arruda recebendo dinheiro’. Nunca vi essa fita. Só fui contar em uma reunião de poucos minutos unicamente entre mim e o governador Arruda e saí chateada porque o Arruda disse que era uma inverdade. E tanto era verdade que essa fita foi divulgada na imprensa pelo Durval Barbosa e encontrada na busca e apreensão na casa do Roberto Cortopassi (empresário), com mais de R$ 1 milhão de reais e jóias da Cláudia Marques que o Roberto disse textualmente em seu depoimento que estava guardando para ela pois tinha uma relação amorosa com a Cláudia há alguns anos, e como ela tinha ido para a Bélgica, tinha deixado com ele. O Durval também fala que passou essa tal fita para a Cláudia. Ninguém falou que passou para mim. E muito antes foi divulgada notícia pela imprensa de que o Roberto Cortopassi tinha, através do Renato Malcoti, ido ao Arruda e o extorquido para ele mandar perdoar a dívida que a empresas WRJ, do Roberto e Renato Cortopassi, tinha junto ao BRB. Como então eu teria extorquido o Arruda com uma fita que nunca vi? Arruda, nos seus depoimentos ao CNMP, primeiro relata que eu fui pedir a ele que pedisse ao Roriz para me pagar R$ 800 mil. Num segundo depoimento, ele fala que fui cobrar R$ 2 milhões do lixo, extorquindo ele. Isso é humanamente compreensível?

Na sua opinião, qual a índole de Arruda?
Não sei exatamente. Sei que não gostei do que ele depôs falando que teve duas reuniões na casa do Bandarra. Uma para o promotor e deputado Chico Leite pedir dinheiro à ele para a campanha na frente do Bandarra. E a outra reunião que teve na casa do Bandarra (foi) pior. Ele declarou em seu depoimento ao CNMP que chegou na casa do Bandarra e encontrou a promotora de Justiça e integrante do Núcleo de Combate ao Crime Organizado do MP, Alessandra Queiroga, em trajes incompatíveis para uma reunião com um governador, e, por isso, ‘até ficou com medo’, pois ela estava muito à vontade, e que, então, preferiu inventar um compromisso e saiu rápido da residência do Bandarra. Mas fez questão de ainda dizer que ela continuou, naquele estado, com o Bandarra. Ora, isso não se fala de uma promotora, ainda mais casada. Ainda mais depois de, aqui em casa, a Alessandra ter falado que era muito amiga do Augusto Carvalho, ele, Arruda, ter colocado o Augusto como secretário de Saúde e terceirizado a Saúde. Linha direta com o Arruda. Para que o Arruda precisava de mim?
E eu que sou envolvida nessas histórias? Estranhei que o Durval e o (Edson) Sombra (jornalista que intermediou a delação de Durval junto ao MP) falaram em seus depoimentos que foi exatamente a Alessandra que procurou o Durval para fazer a delação premiada e isso foi feito no MPDFT e só depois encaminhado ao MPF (Ministério Público Federal), pois ele (Durval) era secretário de Estado e a competência para ouvi-lo em delação premiada ou procurá-lo era exclusiva do MPF. O Durval, em todos seus depoimentos, afirma categoricamente que passou a fita para a Cláudia Marques. E tanto isso é verdade que depois (a fita) foi encontrada na busca e apreensão na casa de Roberto Cortopassi, que declarou seu relacionamento amoroso com ela.

A senhora corre risco de ser expulsa do Ministério Público por suposto envolvimento em corrupção graças às denúncias de Durval Barbosa. Considera-o seu algoz?
Não. Acho que ele foi induzido em erro pela Cláudia Marques, assessora do (ex-governador Joaquim) Roriz e do Arruda. O próprio João Renato (Martin, analista de desenvolvimento de sistemas da Codeplan) disse em seu depoimento ao CNMP que a Cláudia Marques se apresentou a ele no gabinete do Durval em nome do Bandarra para tirar a notícia ‘MP contaminado’ do ar, e disse que fez isso para o Durval de forma normal, tranquila, através de moderador, pois continha dados pessoais como CPF, e isso não pode. Contra mim não há prova nenhuma nem de que eu soubera disso. Minha versão sobre a referida fita é que, por solicitação da então minha amiga Cláudia Marques, o Durval veio com ela até minha casa, ela me falara que era um amigo dela, somente isso. Eu não sabia nada dele. Sozinho comigo no sofá da varanda, a pedido dele, falou que me procurou para eu escolher se ele explodia o governo do Arruda e do Paulo Octávio ou o do Roriz, pois tinha fitas comprometedoras contra todos eles. Quase caí para trás . Perguntei: ‘O que tenho eu com isso, por que eu?’ Ele respondeu: ‘Porque é amiga do Bandarra e quero que o MP pare de me denunciar’. Durval continuou: ‘E porque tenho provas também que você, depois de namorar o Paulo Octávio em 1988 e 1989, só ficou separada dele em 1990, época em que ele se casou. Mas que já em 1991 voltaram a manter um relacionamento amoroso intenso e ininterrupto até 1999, com ele casado, e eu, solteira’. Falei: ‘Durval , eu só te recebi porque a Cláudia me pediu, mas isso que você está me falando sobre ter fitas comprometedoras, seja de quem for, é muito grave, e eu só posso levar ao procurador-geral, para encaminhar para a área cabível se você me trouxer provas’. E eu ainda falei: ‘Olha, se você me der essas provas eu encaminho por obrigação, pois não me sinto nem um pouco encurralada por você, pois eu era solteira e quem era casado era o Paulo Octávio’.

Quem frequentava a sauna da sua casa (local onde supostamente, segundo relator de Durval, ocorriam conversas reservadas e à prova de grampos)?
Ninguém. Minha casa não tem sauna. Pena que o Dr. Ronaldo Albo veio aqui invadir minha privacidade duas vezes e não viu isso. Sumiu muito coisa aqui de casa. Levaram meu passado. O valor encontrado aqui em casa foi comprovado que foram retiradas oficiais do Banco do Brasil e até agora não devolveram o meu dinheiro. Uma das características da minha doença é gastar, gastar. Por isso, entrou dinheiro na minha conta, tem que ser retirado. Isso vem sendo feito há anos. Nas duas buscas e apreensões feitas na minha residência e em empresas do meu marido em São Paulo, lá em ação pirotécnica, nada foi encontrado em computadores, documentos, arquivos, e-mails que tratasse dos assuntos sobre os quais estou sendo acusada.

Acha que são verdadeiros os relatos de corrupção narrados e filmados por Durval Barbosa?
Sim (em resposta enviada por e-mail, no sábado. Já em ligação feita ontem, Deborah pediu para alterar sua resposta — leia abaixo).
Eu disse que sim com relação àquele vídeo em se está entregando dinheiro. Se não, fica parecendo que é no nosso caso, no meu e no do Bandarra. Não acho nada, até hoje não divulgaram nada sobre mensalão do DEM, onde aparece o Arruda e outros políticos recebendo dinheiro, não entraram com nenhuma denúncia. Parece que eu e o Leonardo estamos desviando a coisa do mensalão do DEM. Entraram com as denúncias contra a gente e deixaram os outros casos de lado.

Fonte:Correio Braziliense

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/04/05/interna_cidadesdf,246224/promotora-deborah-guerner-usa-doenca-para-se-defender-de-acusacoes.shtml

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